Fugas - Viagens

  • Sousa Ribeiro
  • Sousa Ribeiro
  • Sousa Ribeiro
  • Sousa Ribeiro
  • Sousa Ribeiro
  • Sousa Ribeiro
  • Sousa Ribeiro

Continuação: página 2 de 6

Rosa é a noite, doce é a vida

- É o meu monumento preferido em Rimini.

Originalmente úmbria, depois etrusca, mais tarde a importante colónia romana de Ariminum, Rimini continuou a mudar de mãos ao longo da Idade Média, submtendo-se aos bizantinos, aos lombardos e ao poder papal na antecâmara de se entregar à família Malatesta no século XIII — e até integrar o reino de Itália, em 1860, ainda foi conquistada, no século XVI, por Cesare Borgia, um homem perverso, ambicioso e frio, antes de capitular perante Veneza e logo depois face aos Estados Papais.

- Como definir Rimini? Uma cidade com um lado mar e um lado montanha, atravessada ao meio pelo caminho-de-ferro. O primeiro, apenas desperto no Verão, vocacionado para o turismo e o entretenimento, é visto pelos locais como fonte de trabalho e de receitas; o segundo, com um centro rico em história, é um coração que pulsa ao longo de todo o ano e onde os residentes gostam de se refugiar mesmo nos meses de Verão, resume Antonietta di Bello, sempre de olhos postos na ponte com os seus elegantes cinco arcos de mármore de Ístria, cruzando as águas do Marecchia.

Erguida no século I, as suas obras foram iniciadas sob a governação de Augusto e concluídas já com Tiberio no poder, contando uma história de quase dois mil anos que a transformam no símbolo da cidade que vou descobrindo até que a noite substitua o dia.

Essa espécie de vida pecaminosa que se respira junto ao mar não encontra paralelo no centro histórico de Rimini, a despeito da presença do Tempio Malatestiano. Dedicada a São Francisco, a igreja foi convertida, no século XV, num edifício renascentista para acolher o túmulo de Isotta degli Atti, a amante de Sigismondo Malatesta (mais tarde mulher), um dos membros do clã com o mesmo apelido a quem o Papa Pio II considerava um biltre, chegando mesmo a queimar a éfige dele em Roma e a condená-lo ao Inferno por uma longa lista de pecados que incluíam violação, incesto, adultério e assassinato, sem esquecer a forma como oprimia o povo.

Com a sua fachada inacabada, a obra, da autoria de Leon Battista Alberti, um dos mais conceituados arquitectos florentinos, era vista pela igreja como um “templo dos adoradores de Satanás”, apresentando-se nos dias de hoje como uma catedral que nada tem a ver com ritos pagãos e com capelas laterais que justificam mais do que olhares fugazes — não deixe de apreciar um fresco de Piero della Francesca, com Malatesta ajoelhado perante S. Sigismundo.

Não muito longe, está o Castel Sismondo, uma estrutura do século XV que também é conhecida como a Rocca Malatestiana, mas é na Piazza Cavour, com os seus palazzi (Palazzo del Município e Palazzo del Podestá, ambos encerrados ao público) que espero o momento em que a noite cai; passo pela Via Pescheria, um antigo mercado de peixe de Rimini, chego ao Arco di Augusto, construído no ano 27, e sigo em frente, ao longo do corso com o nome do Imperador, até desaguar no outro extremo, na ponte que se ilumina.

Para lá está o Borgo San Giuliano.

A vida é doce em Rimini.

Os olhos de Fellini

--%>