Fugas - Viagens

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Rosa é a noite, doce é a vida

A pé ou de bicicleta, vagueando pelas ruas de Rimini, os encontros com os lugares que Federico Fellini inventava, recordava ou sonhava são inevitáveis. Um dos maiores cineastas italianos, o realizador de obras como Oito e meio, A vida doce, Amarcord ou, entre outros, Noites de Cabíria e A estrada da vida, a despeito de ter nascido em Rimini (em Janeiro de 1920 — faleceu em Roma em 1993), nunca filmou na sua cidade natal. Mesmo assim, é uma figura incontornável nas ruas desta urbe que adora o seu filho mais querido — e as artérias vão adquirindo um valor simbólico à medida que a sombra de Fellini as enche com as suas memórias.

Um dos melhores locais para iniciar o percurso que nos conduz, não sem uma certa nostalgia, pela vida do mestre, é o número 10 da Via Dardanelli, não muito longe da praia e muito perto da linha de caminho-de-ferro que atravessa a cidade, onde Fellini nasceu (a família mudou-se pouco depois para Roma mas logo regressou a Rimini, instalando-se no Corso d’Augusto, mais tarde na Via Gambalunga e, finalmente, na Via Clementini). Virado de frente para o mar, se cortar à direita, não tardará a encontrar uma avenida paralela, a Viale Principe Amedeo, com as suas casas elegantes construídas no início do século XX, que desagua na Piazzale Federico Fellini, dominada pela Fontana dei Quattro Cavalli. Se continuar em frente, respirando a brisa que vem do Adriático, chegará a uma área onde em tempos se erguia, majestoso, o Kursaal, um complexo balnear que, com as suas salas de baile, de teatro e um casino, atraía a aristocracia e figuras da vida política, transformando-se no verdadeiro coração mundano das férias em Rimini. Um cais ligava o edifício (destruído após a II Guerra Mundial) a uma plataforma flutuante onde Fellini e os seus amigos gostavam de se acomodar, enquanto perscrutavam, durante os meses de Verão, as pessoas a dançarem nas varandas.

De volta à praça, passando a fonte dos quatro cavalos, à esquerda, recortando-se contra o céu, encontra-se o Grand Hotel, com os seus jardins bem tratados, mágico e um símbolo da Belle Époque, seduzindo tanto hoje como no passado. Inaugurado em 1909, é considerado monumento nacional e transformou-se numa fonte de inspiração para os filmes de Fellini. Com uma infância cheia de nada, Federico dava asas à sua imaginação e cultivava as suas fantasias, olhando através do portão enquanto o seu cérebro se pintava com cenários de volúpia, de belas mulheres dançando nos luxuosos salões do hotel. Muitos anos mais tarde, quando a existência pobre já fazia parte do passado, Federico Fellini tornou-se um cliente habitual do Grand Hotel, onde foi vítima de uma hemorragia cerebral umas semanas antes de falecer.

As 26 ruas

Conduzindo os seus passos de novo em direcção ao mar, seguramente que não deixará de reparar, na rotunda de frente para o Grand Hotel e o Parco Fellini, à direita, numa gigantesca máquina fotográfica Ferrania que aqui se encontra desde a década de 1940 e que funciona como antecâmara da Fundação Fellini do mar (a sede da instituição, criada em 1995, funciona na Via Gambalunga). Rimini é uma cidade que se percorre facilmente a pé e, a curta distância, quase sem dar por isso, surge a Viale Regina Elena, com as suas vielas que, como afluentes, correm para a rua principal — são ruas estreitas, num total de 26, situadas no coração da marina, com uma atmosfera única, com um intenso aroma a Fellini porque, com efeito, a sua toponímia é inteiramente dedicada ao realizador e aos seus filmes, sem esquecer a que presta homenagem à sua mulher, Giulietta Masina, a meia dúzia de passos da Piazzale Federico Fellini, como um polvo de onde partem todas essas artérias, estendendo os seus tentáculos entre o canal do porto e a Piazza Marvelli, na Marina Centro.

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