Fugas - Viagens

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Para lá das suaves colinas

Chipping Campden (campden é uma palavra de origem anglo-saxónica para mercado), há mais de 400 anos que se ouve falar dela, talvez porque assim Robert Dover desejou. Se o fez, a aspiração deste advogado inglês cumpriu-se, tendo como cenário uma colina que tem aos pés Chipping Campden, com a realização dos Jogos Olímpicos, uma criação do século XVII (mais propriamente em 1612) que se perpetuam com base na tradição mas adaptados aos tempos modernos. O atletismo, os saltos, a luta, a esgrima, as corridas de cavalos, os bailes e a caça e o xadrez — todas estas manifestações desportivas eram acolhidas na antecâmara de uma festa, o momento sublime para o vencedor, ansioso por carregar para casa um colar de prata que o afastava de todos os males. A festa continua, em moldes diferentes, mais civilizada do que há quatro séculos, na primeira sexta-feira após o Pentecostes, neste cenário onde a natureza teima em manter-se afastada da mão do homem, oferecendo uma panorâmica sobre o vale de Evesham.

Estando em Chipping Campden no momento certo, observando o fogo-de-artíficio colorindo os céus negros em Scuttlebrook Queen, a procissão de milhares, com as suas lanternas, descendo da colina até à praça, mais do que assistir aos encerramento dos jogos, está a testemunhar uma parte da vida anual de Cotswolds, tão bordada por um fio da história.

A atracção romana

“Coça Gloucestershire e descobre Roma” — outro ditado de um outro tempo mas que pretende, ao contrário do que é dado a entender, ser uma referência à longa história de Cotswolds na agricultura, à facilidade de cultivo, de criação de animais, beneficiando dessa delicada ondulação das colinas que se estendem como dunas verdes. Os romanos, como tantas figuras mediáticas nos dias de hoje, sentiam-se atraídos por Cotswolds. Contemporâneos, são muitos os exemplos, como Hugh Grant, Elizabeth Hurley, Stella McCartney, J. K. Rowling, Kate Winslet, Kate Moss e Alex James (baixista dos Blur), famoso por ter gasto um milhão de libras em Londres em champanhe nos seus dias de excentricidade e por ser, agora mais calmo, criador de vacas e ovelhas e produtor de leite numa quinta em Kingham, a dois passos de Chipping Norton, onde uma vez por ano organiza um festival gastronómico e de música.

Os romanos fizeram mais do que adquirir mansões de luxo, abriram caminhos pelas colinas, por onde antes se fazia o transporte de sal, uma rota mais tarde substituída pela toponímia de Fosse Way (deriva do latim e significa fossa), cavado como defesa e mais tarde transformado em artéria comercial, tão popular na construção das estradas romanas, por onde se canalizavam os bens. Cirencester, a Corinium dos romanos, com o seu estatuto de capital regional do Império na Britânia (apenas superada em importância por Londres), atesta desse passado no impressionante museu local — e, com frequência, os arqueólogos descobrem vestígios do passado, como aconteceu há bem pouco tempo nas proximidades de Tewkesbury.

Os manuais falam dessa batalha, de Tewkesbury, em 1471, da última da Guerra das Rosas (a branca da casa de York e a vermelha da casa de Lancaster, esmagada por aquela), um período turbulento da história que todos os anos, em Julho, é recordado com um festival dramático medieval que figura entre os mais concorridos da Europa. Mais de cinco séculos depois, Tewkesbury, onde os rios Severn e Avon se encontram, é um lugar que cativa o viandante, com as fachadas das suas casas brancas atravessadas por traves de madeira irregulares (há mais de quatro centenas classificadas), as suas ruas estreitas que abraçam a majestosa abadia beneditina do século XII e a panorâmica que se alcança do cimo da torre da abadia normanda, estendendo-se até Brendon Hill e às charmosas aldeias que decoram o Severn Vale. 

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