Uma outra Veneza
Muitos dos visitantes regressam ano após ano — e não é por acaso. A região, para ser admirada em toda a sua plenitude, para que nenhum recanto fique por ver, cobra tempo em troca da sua beleza. Ninguém fica indiferente a Burford, uma vez mais com as suas casas de pedra (muitas delas dos séculos XVII e XVIII) ao longo da High Street, a Minster Lovell, um dos locais preferidos de William Morris, ou a a Bibury, que o artista descreveu como “a aldeia mais bonita de Inglaterra.” A localidade, com pouco mais de mil habitantes, tem também aquela que deverá ser uma das ruas mais fotografadas do país, através da qual corre a Arlington Row, um conjunto de cottages que no século XIV serviam de armazéns de lã e, mais tarde, já no século XVII, foram convertidas em espaços para acolher os tecelões — também do século XVII, atravessando Rack Isle, um refúgio selvagem e onde antigamente se secavam as roupas, o Arlington Mill, um moinho que é testemunha de outras vidas que se foram esgotando como agora se esgota o meu tempo.
De volta à estrada, faço uma paragem em Painswick, para deambular pela Bisley Street, para rodear a St. Mary’s Church e os jardins rococó, desenhados por Benjamin Hyett (proprietário da Painswick House e filho de um membro do parlamento) em 1740 e restaurados para lhe devolverem a glória (e a ostentação) que sempre os caracterizaram.
O dia começa a extinguir-se quando os meus passos percorrem uma das margens do rio Windrush. Turistas com tanta ou tão pouco pressa como eu vão cruzando as pontes da vila que é conhecida como a “Veneza de Cotswolds”, um dos destinos mais populares neste território, não só pela sua beleza natural mas também porque Bourton-on-the-Water proporciona múltiplas actividades a famílias e crianças (réplicas da aldeia, de comboios, parques e jardins com mais de 500 espécies de pássaros, como o Birdland Park and Gardens, museus e até uma conceituada perfumaria que comercializa fragrâncias inglesas há 40 anos, no início um passatempo, hoje um negócio em expansão).
O sol atira os seus últimos raios sobre o campo pintado de verde e amarelo. Uma ovelha fita-me demoradamente, como se desejasse hipnotizar-me ou apenas recordar-me que muito do que acabo de ver se deve aos seus antepassados. Saiu-lhes da pele. Para trás recortam-se as colinas suaves. Das ovelhas e da lã.
Guia prático
Como ir
Desde Lisboa, a melhor opção, combinando comodidade e preço (dependendo das datas, pode viajar por pouco mais de 120 euros, ida e volta), passa por voar com a easyJet até Bristol e, uma vez no aeroporto, recorrer a um dos serviços regulares de autocarro que ligam a Cheltenham (entre duas a três horas e por 16 libras com uma paragem no terminal da cidade) ou, se for mais conveniente, a Gloucester (mais demorado porque tem necessariamente de mudar de autocarro em Cheltenham e por 18 libras). Como alternativa a Bristol — a distância é mais ou menos a mesma —, tem igualmente a possibilidade de voar para Birmingham, se bem que a Ryanair é a única companhia aérea com ligação directa (apenas de Faro) àquela cidade inglesa e por uma tarifa a rondar (a pesquisa é importante face à variação nos preços) por pouco mais de 110 euros. Também de Birmingham (desde o aeroporto mas com uma curta escala no terminal urbano), partem alguns autocarros da National Express com destino a Gloucester e Cheltenham (os mais rápidos cumprem o trajecto em cerca de duas horas).