Construída por Sayyed Roknaddin no século XV, numa área anteriormente ocupada por um outro edifício que, por sua vez, terá substituído um templo do fogo, a mesquita é, em toda a cidade, o monumento que mais impacto produz no viajante, com os seus mosaicos ornando a cúpula e o mihrab, as suas telhas encimando a entrada principal do lado ocidental, numa harmonia arquitectónica que se estende ao pátio e instiga à descida até às entranhas da terra, de encontro ao Zarch Qanat, utilizado actualmente para os rituais das abulações.
A história prossegue e reflecte-se em cada esquina, as cores atraem da mesma forma que as rochas seduzem as lapas: num instante projecta-se contra o céu mais uma cúpula azulada, com os seus azulejos, acolhendo o túmulo de Sayyed Roknaddin Mohammed Qazi, uma figura notável entre os locais (sempre no campo de visão do turista desde que escolha um ponto elevado da cidade), atraindo os olhares há mais de 700 anos e convidando a penetrar no seu interior, deteriorado mas não menos impressionante.
O ar quente e imóvel pede tudo menos um passeio mas a vontade de calcorrear estas ruas por vezes tão silenciosas, indo ao encontro da sua história, serve de estímulo para ir à procura de lugares como o Khan-e Lari, uma das mansões mais bem preservadas do período Qajar em toda a cidade. Com os seus badgirs, as suas portas ornamentadas, as suas janelas de vidro martelado e de múltiplas cores, muitas vezes reflectidas no chão, e as suas arcadas, o Khan-e Lari não deixaria envergonhada a família que a construiu e torna mais agradável a presença de estudantes de arquitectura ou simplesmente de empregados que, embora trabalhando nos seus escritórios, têm plena consciência do que representa estar associado a esta herança cultural que tantos turistas (iranianos) atrai.
Yazd tem uma particularidade: nunca desaponta quem a visita, talvez porque, na nossa santa ignorância, não temos a percepção do que nos pode mostrar. Yazd? Onde fica? Mas, mal se chega, absorvendo os calores que vêm do deserto, a sua monumentalidade é um constante apelo a uma errância serena. Na praça Zaiee, por exemplo, uma estrutura do século XV, com a sua cúpula abobadada, facilmente prende os olhares - é a Prisão de Alexandre, a Eskandar, para uns o lugar para onde Alexandre, o Grande enviava os prisioneiros durante a sua conquista da Pérsia, para outros, o espaço onde o próprio foi detido. Outras teses associam o complexo à religião mas, seja qual for a sua origem, Eskandar já ganhou um lugar na eternidade por ser uma referência num poema de Hafez – e o significado que tem para o povo iraniano tudo o que esteja intimamente ligado ao poeta nascido em Shiraz.
Com um olhar mais ou menos atento, não tardará a descobrir um poço no meio do pátio, se estiver acompanhado de um guia provavelmente irá ouvir da sua boca que foi construído por Alexandre, que este mesmo o utilizou como calabouço. Não importa o rigor da informação, deixe-se apenas errar, tranquilamente, percebendo parte da história de Yazd através do Museu Etnográfico e antes de rumar à cave, grato pela atmosfera fresca e pelo chá que não tardará a ser servido enquanto se admiram os tapetes que decoram o espaço.