Às primeiras horas da manhã, uma menina, carregando o pão acabado de comprar na padaria da qual me chegam os odores, recorta-se docilmente contra uma parede que se ergue contra o céu azul.
Lançando o olhar, agora de um ponto mais alto, deixo-o que se perca por entre os muitos badgirs que se espalham pela cidade.
Outros ventos sopram sobre Yazd e, de uma forma geral, sobre o Irão mas os badgirs continuam, ainda hoje, cumprindo a sua função secular, a dispersar a brisa sobre as casas, atenuando os calores que chegam do deserto. Pelo menos no Verão, nenhum viandante terá dificuldade, uma vez às portas da cidade e perscrutando pela primeira vez a dimensão da floresta de torres do vento que se erguem sobre os telhados, em perceber a utilidade dos bagdirs e de sentir curiosidade perante este antigo sistema de ar condicionado (natural), concebido para aprisionar a mais suave brisa e direccioná-la para os quartos no rés-do-chão – e nada melhor do que permanecer sob um deles para perceber o efeito e o funcionamento de tão engenhoso fenómeno, pensado de forma a evitar a entrada nas residências das correntes de ar quente.
Não menos genial – e reveladora da habilidade dos famosos e bem pagos construtores de Yazd – é a criação dos qanats, uma tradição com mais de dois mil anos de história e que implica um complexo sistema de leis que governam todos os aspectos relacionados com a sua utilização e manutenção. A água é, talvez mais em Yazd do que em qualquer outra cidade iraniana, um bem demasiado precioso para ser desperdiçado. Primeiro, é fundamental encontrá-la, muitas vezes a mais de cem metros de profundidade; depois, utilizando um sistema que depende da gravidade (a nascente tem de estar mais elevada do que o destino final), construir túneis com a largura e a altura suficiente para a fazer circular, abastecendo a população e os campos férteis.
Calcula-se que, apesar do Irão se virar cada vez mais para os novos e modernos sistemas de irrigação, continuam activos cerca de 50 mil qanats em todo o país – para ter uma ideia não deixe de visitar o impressionante Museu de Água de Yazd, na praça Amir Chakhmaq, abrigado numa antiga mansão finamente restaurada que acolhe dois qanats nas caves.
Um tempo de esplendor
Yazd, poupada por Genghis Khan e Tamerlande, conheceu os seus dias de prosperidade entre os séculos XIV e XV, retirando claros benefícios de um comércio em expansão, tão fortemente ligado à seda, aos têxteis, aos famosos tapetes. Como sucedeu um pouco por todo o país, a derrota dos safávidas apressou o declínio da cidade, quase ignorada até ao momento em que o último Xá decidiu ligá-la por transporte ferroviário.
Na sua solidão, isolada, também nunca recebeu um número significativo de turistas, conservando grande parte do seu charme e do seu carácter. Uma herança que se esconde em múltiplos recantos e tem sempre como referência a Masjed-e Jameh, a mesquita que, sumptuosa, domina a cidade antiga, com a sua fachada não menos imponente, o pórtico de refinados azulejos, flanqueado por dois minaretes que me observam do alto dos seus quase 50 metros, com os seus motivos decorativos (inscrições) que remetem para o século XV, como se Yadz desejasse viver sempre num tempo passado e não nos dias de hoje.