Na rua o calor sente-se, não há humidade, mais uma tarde quente e seca. Como é habitual em Yazd.
Mesmo ao lado da prisão, num edifício em tijolo, encontra-se o Túmulo dos 12 Imãs, com inscrições no interior que fazem referência aos imãs xiitas, os sucessores espirituais da religião (professada pela maior parte dos iranianos, conhecidos no mundo ocidental como twelvers) após a morte do profeta Maomé.
A tarde avança, num dos relógios da bonita torre mais do que noutro, contra o céu recorta-se, a curta distância, o admirável complexo de Amir Chakmaq, com uma magnificente fachada de três andares, com os seus azulejos azuis e dois minaretes que ameaçam rasgar a abóbada do mundo ladeando a estrutura do meio, por sinal a mais alta.
O takieh, como é conhecido (um edifício utilizado durante os rituais comemorativos da morte do Imã Hossein), é um dos maiores do Irão e potencia toda a sua beleza estética ao final da tarde, quando o sol está prestes a mergulhar – é a altura ideal para, depois de deitar um olhar ao nakhl, a enorme estrutura em madeira no exterior do takieh tão importante para os xiitas durante as celebrações Ashura, regressar ao silêncio das vielas mas ainda com tempo para apreciar, pela segunda vez, o anb anbar, o reservatório de água, construído em finais do século XVI e que, de uma altura de quase 30 metros e coroado por cinco bagdirs, se assemelha a um ovo gigante.
Um novo dia desperta, o sol sobe lentamente no céu, vai iluminando os tectos das casas de tijolo e lama. No interior do Ateshkadeh, um padre vestido de branco, com os seus cabelos grisalhos, aproxima-se e coloca uma acha num grande vaso de bronze antes de murmurar palavras incompreensíveis. O fogo ganha força, o odor a fumo enche a atmosfera e o ritual, entre as paredes do templo do fogo, tem tudo de íntimo. A chama irá continuar a arder, é a sagrada chama eterna, há quem garanta que é assim pelo menos desde o ano 470 d. C., correspondendo ao desejo de Ahura Mazda, um deus invisível que pediu aos seus seguidores para rezarem por ele, sempre na direcção da luz – e a luz, para os antigos, era o fogo.
Estamos de novo em 1271.
GUIA PRÁTICO
Como ir
Uma vez que não existem ligações directas entre Lisboa e o Irão, terá sempre de efectuar uma escala numa cidade europeia antes de aterrar em Teerão. De forma gradual – e na sequência do levantamento das sanções económicas ao país –, companhias aéreas como a British Airways e a Air France, por exemplo, já retomaram uma rota ignorada pelas duas nos últimos anos. Também para o final deste mês (Outubro), está agendado o regresso da KLM a Teerão, uma ligação interrompida, por razões económicas, em 2013. De Lisboa, há outras possibilidades, como a Emirates ou a Turkish Airlines – enquanto a primeira viaja, com uma paragem no Dubai, para Teerão e Mashhad, a cidade sagrada do Irão, a segunda amplia a sua oferta até cidades como Shiraz e Isfahan (com tarifas na ordem dos 650 euros). Caso aterre na capital iraniana, pode chegar a Yazd, situada a mais de 600 quilómetros, de avião (o trajecto cumpre-se em pouco mais de uma hora e é operado por diferentes companhias aéreas, entre elas a Iran Air), de autocarro (com a desvantagem de ser uma longa viagem de nove horas) ou de comboio (dois expressos diários ligam as duas cidades em menos de seis horas). De Isfahan, também é possível chegar a Yazd, utilizando transporte ferroviário (cerca de quatro horas e meia) ou autocarro (um pouco mais) para cobrir os mais de 300 quilómetros que distam entre as duas urbes.