Fugas - Viagens

  • Humberto Lopes
  • Humberto Lopes
  • Humberto Lopes
  • Humberto Lopes
  • Humberto Lopes

Continuação: página 2 de 5

Si Phan Don, um arquipélago no largo coração do Mekong

Ilhas no fim do mundo

Si Phan Don, que na língua local significa “quatro mil ilhas”, não é a região mais remota do Laos — nos últimos anos tornou-se, aliás, uma zona de passagem para o Camboja para quem não queira dar a volta pela Tailândia e entrar pela fronteira de Poipet ou andar a cirandar pelo Vietname até Ho-Chi-Minh e a partir daí navegar pelo Mekong até Phnom Penh. Mas os trâmites de fronteira em Strung Treng e o sistema de transportes, distantes da débil regulação do poder central de Vienciana (um paradoxo, sendo o Laos, oficialmente, um país comunista) e sujeitos a arbitrariedades, não facilitam a vida dos viajantes, pelo que uma boa parte dos forasteiros que aqui vem parar fá-lo essencialmente em busca de experiências de turismo cultural ou de ecoturismo.

Outro atractivo deste imenso arquipélago de incontáveis ilhas e tão longe do mar, além dos trekkings nas áreas protegidas do planalto de Bolaven, é a possibilidade de observação de golfinhos (da espécie Orcaella brevirostris), uma comunidade em forte declínio no Mekong (restam cerca de 80 em Si Phan Don, segundo o World Wild Fund) que tem sido objecto de iniciativas de protecção por parte de várias entidades, como o WWF. Uma das ameaças que se perfilam no horizonte é, precisamente, a do megaprojecto hidroeléctrico de Don Sahong, planeado para um local próximo da fronteira com o Camboja e apenas a cerca de um quilómetro do habitat dos golfinhos.

O número de ilhas e ilhotas varia de acordo com a estação e o volume do caudal do Mekong. Só algumas das ínsulas são habitadas e as escolhas dos visitantes são condicionadas também, sem estranheza, pela oferta (ou falta dela) de animação de carácter turístico e pela oportunidade de uma aproximação à vera vida e ambiência local, sem aquela crescente decoração espaventosa do turismo “alternativo”, que ameaça padronizar festivamente todos os cantos do globo ao som do chillout. Sem exagero, Don Khong e Don Det (e a sua “irmã gémea” Don Khon, um tanto maior e mais tranquila) estão em pólos opostos.

A primeira, a mais espaçosa das ilhas deste vasto arquipélago fluvial, é um oásis, quase sem automóveis e forasteiros, um oásis tão abençoado para se repousar das extenuantes jornadas pelo Laos quanto para pedalar (literalmente) pelos cénicos palcos onde se desenrola a vida rural local. Don Det e Don Khon são vizinhas (estão ligadas por uma velha ponte ferroviária do tempo colonial agora convertida em passeio pedonal), são mais frequentadas por turistas (mais a primeira do que a segunda) em busca de cenas trendy e dispõem de maior oferta de alojamento e diversão — basicamente bares, restaurantes e esplanadas à beira do rio úteis para cultivar preguiças ao sol. Don Daeng pertence a outro capítulo: localizada mais perto de Vat Phou, conserva ciosamente uma atmosfera rural, sem veículos automóveis (salvo alguns pequenos tractores agrícolas) ou sinais excessivos de descaracterização arquitectónica. Caminhadas ou passeios de bicicleta (a ilha tem cerca de doze quilómetros de extensão) e estadias no lodge comunitário ou em regime de homestay na aldeia de Ban Hua, com degustação de comida caseira, são argumentos de monta para se estanciar alguns dias nesta ilha.

--%>