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Era uma vez na Arménia

Do interior chegam-me ainda os cânticos mas eu desloco a minha atenção para o segundo piso da residência do pontífice de Echmiadzin, à procura das portas de aço que guardam a tábua de ónix e sobre a qual se encontram gravadas em ouro de 20 quilates as 36 letras originais do alfabeto arménio, as mesmas que, para o povo, permitem manter um diálogo com Deus e continuar a resistir como nação independente. Aos domingos, o chefe espiritual da igreja deste Estado dentro de um Estado abandona por momentos a residência e dá a sua benção aos fiéis. Aqui e acolá, alguns deles beijam o solo.

Retiros de paz

Deixo Ierevan para trás e Sevan recebe-me, uma hora depois, com uma luz mortiça que parece realçar a beleza do lago que contém 80% dos recursos hídricos do país (sem petróleo e sem gás) e está situado a quase dois mil metros acima do nível das águas do mar. Já não tenho pressa, como quando por aqui passei, acompanhado pelo melhor piloto do mundo. Agora, sou eu que defino o meu ritmo, mais pausado, com tempo para errar pelas margens do lago que é a praia dos arménios no Verão, pelo Sevanavank, o mosteiro fundado no final da primeira metade do século XIX quando Sevan era uma aldeia russa conhecida por Elenovka, pelo cemitério de Noraduz, com as suas típicas khachkars, as cruzes talhadas em pedra em forma de lápides que estão por todo o lado, e as anciãs que se sentam nos túmulos e fazem gorros de lã para os familiares e os poucos turistas que se acercam deste lugar que parece ter vida.

O ritmo não se altera em Dilijan, uns dias depois, por entre uma natureza generosa; caminho por trilhos onde nada se ouve a não ser o restolhar das folhas e o trinar dos pássaros até chegar à igreja de Surp Grigor e ao mosteiro de Jukhtakvank, ambos do século XI, pelas ruas empedradas e as casas elegantes do centro histórico da vila, também de pedra e com alpendres e varandas em madeira. Dilijan é o meu retiro, como foi, noutros tempos, sob o domínio soviético, de compositores, de realizadores de cinema e de escritores. Tenho tempo para meditar, para reflectir sobre esse paradoxo de ver o monte sagrado e não o poder tocar, como alguém que, tendo casa própria, tem de se limitar a ficar à porta.

Sim, Tatev Sananyan, prometo voltar para ficar durante horas a olhar o Ararat, como quem espera ver Noé largar uma pomba que um dia regressa à arca com um ramo de oliveira no bico.

 

GUIA PRÁTICO

Como ir

Não há voos directos entre Portugal e a Arménia mas diferentes companhias aéreas têm ligações a Ierevan, como a KLM ou a Air France. Como alternativa, mais em conta (com a Turkish Airlines), pode voar até à Geórgia e, uma vez em Tbilissi, recorrer às marshrutky, estacionadas em frente ao terminal de Ortachala, para chegar à capital arménia. 

Quando ir

Qualquer altura é boa para visitar um país conhecido pelos muitos dias de sol que proporciona ao longo do ano. Com quatro estações bem definidas, a Arménia beneficia de um clima continental, com verões secos e soalheiros, entre Junho e meados de Setembro, registando temperaturas entre os 22 e os 36 graus, dependendo do lugar onde se encontre — no vale de Ararat os termómetros atingem com facilidade os 40, da mesma forma que baixam consideravelmente durante o Inverno. As primaveras são curtas e os outonos longos, a neve cai no Inverno, ao contrário da chuva (em média os meses de Dezembro, Janeiro e Fevereiro estão entre os mais secos ao longo do ano, e Maio é aquele em que ocorre, por norma, maior precipitação).

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