Voltar, agora, fazia sentido. Queria sossegar os pais, matar saudades, sentir-se apenas um igual. Precisava de arranjar patrocínios para continuar a sua World Sketching Tour, agora a dois. E tinha vontade de parar, de se reorganizar. “As prioridades vão mudando. Ainda tenho vontade de viver aventuras, mas de forma mais inteligente, mais organizada, para que possa extrair mais de cada uma.”
Os pais nem queriam acreditar. “Ficaram muito felizes. O meu pai queria-me cá. A minha mãe também. Falo sempre com eles pelo Skype, mas é diferente. Dá-lhes um conforto diferente ver-me. Também sabem que é temporário. Já começaram a pensar nos dias que faltam para eu ir.”
Estivera em tantos lados desde que me despedira dele, em Hong Kong. “Estive na Índia três meses. Fui ao Sri Lanka. Amei o Sri Lanka. Fiz um livrinho. Foi um bocado por tua culpa que o fiz porque fiquei com vontade de fazer registos daqueles”, disse-me, numa alusão à reportagem ilustrada “Atrás das barricadas”, publicada na revista 2, que então integrava o jornal PÚBLICO. “Até hoje ainda ando um bocado a pensar: qual é o caminho? É só desenho? É desenho e história? É BD? O que é?”
Fizera mais um bom bocado: “Voltei para a Índia. Estive na Tailândia. A Tailândia acabou por ser a minha base. Era fácil viajar de avião para Singapura. Estiva na Malásia. Estive na Birmânia. Fiquei mais um pouco na Tailândia. Fui para as Filipinas. Estive na Indonésia, na Austrália, na Nova Zelândia. Voltei para a Indonésia. Começou a ser uma viagem de relação com a Anisa.”
Por duas vezes, tentara desenvolver projectos com outras pessoas. Na Índia, tentara fazer relatos de viagem com Jorge Vassallo. Na Tailândia, trabalhara num livro sobre os conflitos que se desenrolam a Sul, na região de Pattani, desta vez com Pietro Buzzanca. Nenhum dos projectos chegara a bom porto.
A viagem fora perdendo algum sentido. “O fun é muito importante para mim”, diz. “Esse lado fun foi esmorecendo. Talvez também porque eu preciso de inspiração para desenhar. Talvez também porque eu preciso de estar um bocado de consciência limpa, de ter o raciocínio liberto.”
Há pouco mais de meio ano, quando foi ter com Anisa Subekti, a rapariga por quem se apaixonara meses antes, em Bali, sentia-se “muito em baixo”. “Vinha triste. Estava magrinho. Ela foi uma espécie de enfermeira. É muito atenciosa, muito carinhosa. Foi aquele conforto de que eu precisava.”
Conhecera Anisa logo na primeira semana que passara em Bali, em Fevereiro de 2016. “Estava a ir para a praia, ela também, meti conversa”, recorda. Conviveram uns dias. A rapariga assustou-se. Cancelou um jantar combinado. “Ela disse-me que não queria estar comigo.” Encontrou-a, por acaso. “Ela disse-me que estava a começar a interessar-se por mim e que eu ia embora. E eu disse: ‘Ó pá, vai com calma.’ “ Propôs-lhe que tirasse uns dias para se conhecerem melhor.
Pegaram numa moto e deram umas voltas por Bali. “Nunca vi pores-do-sol tão bonitos”, garante ele. Sentiu-se tentado a adiar a partida, a ficar por ali mais um mês, pelo menos. Ela disse-lhe que não, que seguisse o caminho dele, que o acompanharia à distância. “Acho que se tivesse cancelado a viagem, teria ficado qualquer coisa... Acho que o facto de ela ter esperado, ter acompanhado de forma solidária e entusiasmada o que eu fazia, me deu ainda mais vontade de voltar”, comenta.