Fugas - Viagens

  • Norbert Delauney
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  • Sousa Ribeiro
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É Carnaval, o bacalhau não leva a mal

Não se podendo negar a importância da intriga no contexto do Carnaval, tão espontânea e de espírito tão cáustico, são outras as produções que, convidando a uma participação mais activa, concorrem para atrair verdadeiras multidões a Granville neste período do ano. A abertura do programa fica assinalada por um concerto na Maison du Carnaval mas é no sábado que as ruas começam verdadeiramente a ganhar vida, logo pela manhã, com um mercado alusivo ao evento que proporciona animação musical; mal a tarde avança, procede-se à entrega da chave da cidade a sua majestade, o rei do Carnaval, pouco antes de se iniciar o cortejo (cavalcade) das crianças, que neste dia também têm direito a dar um pé de dança. Pouco depois de a noite cair sobre Granville, pode-se ouvir, um pouco por todo o lado, a música das fanfarras — e é com música que desperta o domingo, como um aperitivo (na verdade, pelo meio o rei tem direito a um cocktail na Maison du Carnaval) para a grande cavalcade, com partida de três pontos distintos da cidade (do casino, do porto e da zona alta).

É uma manifestação única, uma das mais apreciadas por quem, com um rosto emoldurado por um sorriso, dança nos mais de 40 carros alegóricos, mas também por quem se limita a assistir ao desfile que percorre cerca de três quilómetros — o que faz dele um dos mais longos da Europa e que conduz, como recompensa, a um piquenique que junta os dois mil participantes, retemperando forças para nova cavalcade, cheia de luz, de cor, de ritmo.

A segunda-feira é, por tradição, um dia mais calmo, destinado aos bailes (e como é difícil garantir uma entrada, uma vez que as reservas esgotam rapidamente), mas na terça, após o almoço, a euforia volta a instalar-se entre locais e visitantes, com mais uma cavalcade, esta satírica e humorística, que se prolonga até outro dos momentos mais aguardados: nas águas do porto, sobre uma plataforma flutuante, o rei é julgado e executado e cremado, as chamas sobem no céu, o povo aplaude enquanto a figura do soberano se vai transformando em cinza.

O Carnaval aproxima-se agora do fim mas a magia ainda se estende até ao entardecer, tão cheio de cor; homens e mulheres, crianças, toda uma cidade que tem o Carnaval no coração, todos são cobertos por toneladas de confetis. Já só há tempo para correr para casa, colocar a máscara à pressa e invadir a casa dos amigos, os locais públicos — a intriga vai começar e só termina quando os primeiros alvores mancharem o céu de Granville.

Mónaco do Norte

Granville, com uma população que não excede os 15 mil habitantes, tem no Carnaval, fortemente associado à história marítima da cidade, a sua primeira grande celebração do ano mas aquela que é considerada por muitos como o Mónaco do Norte da França proporciona muito mais atracções a quem a visita.

“Nasci em Granville a 21 de Janeiro de 1905. Meio parisiense, meio normando, estou muito ligado ao país que me viu nascer e guardo a recordação mais terna e maravilhosa da minha casa de infância. A minha vida e o meu estilo devem quase tudo à sua localização e arquitectura.”

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