Também o vereador do Turismo, Paulo Costa, fala dessa presença constante do mar nas histórias deste território – não é por acaso que há 80 anos nasceu o Museu Marítimo de Ílhavo (requalificado em 2001), hoje entre os mais visitados em Portugal, e que celebra as diferentes formas de a região se relacionar com o mar, com destaque para a saga heróica dos bacalhoeiros.
A estratégia para o crescimento do turismo na região, definida há alguns anos, parte precisamente daí. “Estamos numa região muito competitiva em termos turísticos e decidimos no final da década de 1990 escolher o mar como marca distintiva, mais na vertente da pesca do bacalhau porque isso nos distinguia dos outros municípios da região. Essa foi a nossa grande âncora, a memória, a cultura ligadas à pesca do bacalhau. É aqui que está o grande porto bacalhoeiro do país, o navio Santo André [na Gafanha] foi transformado em navio-museu, fazemos desde 2008 o maior festival de bacalhau do país [cinco dias, 12 toneladas de bacalhau consumidas, 150 mil visitantes, com uma presença significativa de espanhóis vindos do País Basco, região também com fortes ligações ao bacalhau].”
Há dois anos entrou na equação uma “peça nova”, explica o vereador. Bom, chamar-lhe nova não será exacto, trata-se afinal da fábrica da Vista Alegre, que aqui existe há quase 200 anos, mas que, agora propriedade do Grupo Visabeira, adoptou uma nova estratégia, com uma ampliação do museu, a construção do hotel e a recuperação do teatro, agora integrado no 23 Milhas. Assim, à ideia do mar juntou-se uma marca de cerâmica familiar a todos os portugueses e reconhecida a nível internacional.
A estratégia já deu frutos. “Temos tido um número crescente de visitantes fora das épocas altas. Somos hoje muito mais competitivos do que éramos há uns anos, porque apostámos em marcas identitárias”, diz Paulo Costa. Já não são apenas as praias da Costa Nova e da Barra a atrair turistas para a região, mas a programação cultural começa também a despertar atenções e o município trabalha agora para que haja uma visão mais global da ria de Aveiro – ou seja, que um visitante não venha apenas a Ílhavo ou à Costa Nova, mas que olhe a ria como um conjunto.
“A ria como destino turístico é uma urgência”, afirma. “Temos que caminhar cada vez mais para aí, não fortalecermos a marca Aveiro por si só, mas a marca ria de Aveiro, porque tem um valor acrescentado muito maior. Se formos ao Douro não vou ao Pocinho ou à Régua, o Douro conseguiu vender-se como um todo e as pessoas vão visitar quatro ou cinco municípios onde existem diferentes pontos de interesse. Nós ainda não demos esse salto de nos vendermos como um todo. Temos que assumir a ria como uma coisa fabulosa que é, um espelho de água lindíssimo, com paisagens fabulosas. Temos aqui no centro do país algo absolutamente diverso do resto. A ria de Aveiro é muito mais do que os canais da cidade de Aveiro, vai de Ovar até Mira.”
Para o 23 Milhas, Luís Ferreira pegou no território e nas suas várias identidades, mas também nos grandes símbolos da região. “O bacalhau é um símbolo imaterial de identidade, que marca a relação de Portugal com o mundo, é algo que não é nosso e que fomos buscar a outro ponto do globo”, diz. “E, no caso da Vista Alegre, é uma marca que quando estamos no estrangeiro nos faz sentir em casa. Toda a gente tem um serviço Vista Alegre para as grandes ocasiões – isso é cultura. Toda a gente usa o bacalhau e o serviço Vista Alegre e, de repente, Ílhavo tem dois símbolos nacionais que trazem uma narrativa muito interessante para quem quer trabalhar a cultura.”