Uma visita às minas é uma experiência única, imperdível, uma viagem ao passado que começa com uma viagem de funicular até à base onde a comunidade de mineiros vivia em tempos de antanho. E logo, como introdução, se escuta a história do Homem no Sal, uma referência à descoberta, em Abril de 1734, por parte de três mineiros, de um corpo bem preservado — as roupas, a pele e o cabelo conduziram à conclusão que o homem, provavelmente vítima de um acidente, terá vivido 1000 anos a. C..
Após uma curta caminhada, chega-se à boca do túnel Christina, localizado a quase mil metros acima do nível das águas do mar. O cheiro do sal impregna-se nas narinas, a temperatura, mesmo de Verão, não sofre oscilações, não mais do que oito graus centígrados (devido ao gradiente geotérmico do sistema subterrâneo), caminho mais um pouco ao encontro de um espaço com bancos de madeira, onde não tardo a assistir a um documentário que se encarrega de me explicar como o sal se formava nas montanhas (originalmente provinha do mar), a forma como era extraído, que indústrias ainda hoje o continuam a utilizar.
As Salzwelten (abertas entre Abril e Novembro) são um pequeno mundo, nem mais nem menos do que 12 níveis de túneis, também conhecidos como horizontes, mas o acesso está limitado a apenas dois pisos. O visitante é conduzido a uma sala de cristais e depois convidado a empreender outra viagem no tempo, descendo por um escorrega de madeira com 64 metros de comprimento, o que faz dele o maior do mundo no género. É um momento do agrado dos adultos e especial para as crianças (uma foto para recordar avalia também a velocidade a que desliza), um método já utilizado pelos mineiros, que recorriam a uma escada de madeira para efectuar a subida.
O percurso prossegue com uma visão sublime oferecida pela caverna Hörnerwerk, com o seu lago de sal (onde a salmoura era recolhida antes de ser bombeada para fora da mina) e palco de concertos durante os meses de Verão — um contraste que se estende a todo o processo manual no tempo dos celtas e à mecanização nos dias de hoje, ainda que continuem a ser necessários mineiros no subsolo.
Um pequeno comboio, o Grubenhund, devolve o turista ao ar livre. Desde uma plataforma, uma vez iniciado o regresso a Hallstatt, a panorâmica é soberba. Uma vertigem: 350 metros abaixo, os telhados, as montanhas para lá, o lago cintilando.
Barco com vista
Hallstatt é, antes de mais, um postal, um lugar que aceita, de forma submissa, todos os lugares comuns — bucólico, um sonho alpino, um museu ao ar livre, um cenário pintado pela mão de Deus. Mas Hallstatt, reconstruída no estilo Barroco em 1750, na sequência de um incêndio, é muito mais: Património da Humanidade desde 1997, com a suas janelas das casas em madeira, das quais se debruçam flores de cores vivas, com as suas ruas que se empinam, como se desejassem abraçar os montes majestosos que a protegem, com uma cultura mais antiga do que a celta, um mundo que parece estar a milhares de quilómetros deste mundo mas que não dista mais de 80 quilómetros de Salzburgo.