Fugas - Viagens

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Diz-me, espelho meu, há aldeia mais bela do que eu?

Em Hallstatt o encanto eterniza-se, até no cemitério — tudo parece moldado para atingir a perfeição, como um museu, mas com vida. No cemitério, com as suas regras próprias, como ser sepultado na horizontal, não permitir sepulturas de famílias e autorizar que as sepulturas sejam reocupadas após dez anos, a vida passeia-se ao lado da morte, de tal forma o espaço, sobre uma parte rochosa contíguo à igreja, cativa os olhares de todos os que visitam, com mais ou menos pressa, a aldeia.

Antes de me limitar a passear pelas suas artérias, de sentir a vida pulsar na bonita Marktplatz, dominada pela estátua da Santíssima Trindade e abraçada por casas pitorescas, e de me sentar a escutar o marulho das águas do lago, passo ainda pelo ossário paroquial, outro dos lugares que desperta curiosidade entre os visitantes, uma curiosidade mórbida, como parece ser, desde tempos imemoriais, a forma como os vivos sempre olham os mortos. É para a capela de São Miguel, erguida no século XII, que são conduzidos, desde pelo menos 1600, os restos mortais dos locais, permanecendo enterrados durante dez ou vinte anos antes de serem expostos com o nome e a data gravados na frente. São, no total, 600 crânios, muitos deles decorados em finais do século XVIII mas alguns do século XX.

Há turistas um pouco por todo o lado e Hallstatt e as suas gentes parecem felizes em receber ainda mais, agora que o Instagram a elegeu como a aldeia mais bonita da Europa.

- Hallstatt sente-se honrada por ser mencionada nos media ou nas redes sociais, já que faz aumentar o interesse das pessoas em visitá-la. É agradável partilhar fotos desta aldeia histórica com o mundo, admite Cecilia Greaves.

Contemplo, sentado junto ao lago, a infinitude desta beleza. Na água, diferentes cores misturam-se e vão ondulando, como algumas pequenas nuvens. A aldeia é vaidosa, gosta de se ver ao espelho e parece que a ouço murmurar, em voz baixa como fazem os seus habitantes:

Diz-me, espelho meu, há aldeia mais bela do que eu?  

 

Guia prático

 

Como ir

A TAP viaja de Lisboa para Viena e, segundo pesquisa efectuada umas semanas antes, oferece uma tarifa a rondar os 370 euros; desde que não se incomode com uma escala, em Zurique, a Swiss proporciona preços mais económicos (menos de 240 euros para uma ligação entre a capital portuguesa e austríaca). Com escalas e com tempo, talvez estando atento às promoções, é possível ainda garantir tarifas mais em conta.

Desde Viena, pode recorrer ao comboio para chegar a Hallstatt, dispondo de duas opções como ponto de partida — a hauptbahnhof ou a westbahnhof. Se estiver um pouco limitado de tempo, é importante ter em conta que, devido ao número de escalas, alguns serviços são mais demorados do que outros. Mas se esse não constituir um problema, também poderá apreciar uma outra rota, via Steinach-Irdning, que o leva através do Ennstal e ao longo do vale do rio Enns — uma possibilidade que agradará a quem sente prazer em viajar de comboio.

Viena está situada a quase 300 quilómetros de distância de Hallstatt, pelo que Salzburgo, mais próxima (70 quilómetros), pode ser uma alternativa (a Austrian voa para a cidade de Mozart com uma escala na capital). De Salzburgo, na praça em frente à estação ferroviária (ou na Mirabell Platz), sai um autocarro (n.º 150) a cada duas horas com destino a Bad Ischl e com passagem por alguns dos mais cénicos lagos de Salzkammergut. Uma vez em Bad Ischl (uma vila agradável para caminhar e residência de Verão do imperador austríaco até ao final da II Guerra Mundial), compre um bilhete de comboio até Hallstatt — na estação, desça até ao cais e percorra de ferry a última etapa, aquela que o irá levar à aldeia (especialmente bonita pela manhã, quando recebe — se receber — os raios do sol).

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