Fugas - Viagens

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Montreux: aqui jazz a inspiração

A subida deixa-me cansado mas a vista que se oferece à minha contemplação, desde a Rua do Templo, tendo a igreja de São Vicente como companhia silenciosa, compensa o esforço: as vinhas de Lavaux, por onde Charles Dickens gostava de passear ao final da tarde, o lago, as montanhas agora já com contornos pouco definidos e o castelo de Chillon envolto numa espécie de bruma. 

A pena de Byron

Se caminhar ao lado do lago, escutando o seu permanente murmúrio, não demorará mais de 45 minutos até chegar a um castelo que há pouco mais de 200 anos (celebrados em 2016) se tornou famoso graças à pena de Lord Byron, com o poema O prisioneiro de Chillon, inspirado em François Bonivard, atirado para as masmorras pelas suas ideias sediciosas e mais tarde libertado, em 1536, pelas tropas dos senhores de Berna. Byron esculpiu o nome no pilar onde, supostamente, François Bonivard foi amarrado, pintores como William Turner ou Gustave Coubert eternizaram a silhueta do castelo em quadros, escritores como Jean-Jacques Rosseau, Mary Shelley ou Alexandre Dumas não resistiram a escrever sobre esta construção que, ocupando uma localização estratégica sobre o lago Léman, supostamente recebe mais visitantes do que qualquer outro monumento em todo o país (estima-se que são 300 mil por ano). A fortaleza, erguida no século XIII, oferece um conjunto de pátios, de torres e corredores repletos de armas, de mobílias de tempos ancestrais e obras de arte, um verdadeiro forte quando para ele se olha chegando por via terrestre, muito mais dócil, como se abrigasse uma princesa entre as suas paredes, quando avistado desde as águas do lago. Construído, em grande parte, pela Casa de Savoy, depois tomado pelos governantes de Berna após Vaud ter caído nas mãos daquele cantão, o castelo parece depositar uma parte do seu orgulho nos frescos que a capela de St. Georges exibe, mas também nas fantasmagóricas masmorras góticas.

Regresso à cidade quando o sol está prestes a ser engolido. Ao meu lado, o lago enche-se de cores crepusculares e de silhuetas, produzindo um cenário harmonioso. Sento-me, por momentos, a respirar o ar puro, ao lado da estátua de bronze (erguida em 1996 e onde os fãs continuam a colocar flores) de Freddie Mercury e a meia dúzia de passos do elegante mercado coberto. O vocalista dos Queen viveu durante alguns anos na cidade e o último álbum da banda, Made in Heaven, foi gravado no Mountain Studio, no casino de Montreux. 

Recordo-me de perguntar a Aurélia Guillot o que lhe sugeria, numa única palavra, Montreux. A jovem, sem qualquer maldade, enganou-me, deixando assomar aos lábios não uma, mas duas palavras:

- Inspiração. Pura inspiração.

É o slogan de Montreux e da Riviera. E parece ser assim já há muitos anos, para Vladimir Nabokov, para Ernest Hemingway, para Stravinsky, para Tchaikovsky e tantos outros.

Até Aurélia Guillot me parece inspirada:

- É como dizia Freddie Mercury: se queres paz de espírito, vem para Montreux.

Permanece actual e ameaça não passar de moda. Pelo menos tão cedo. Como algumas canções.

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