As escolhas de... José Augusto Moreira
Pardusco Escolha 2012
Um vinho raro e diferente e que bem pode ser visto como uma espécie de peninha no chapéu na arte de fazer vinhos de Anselmo Mendes. A ideia foi fazer um tinto ao estilo de antigamente, no tempo em que os vinhos do Alto Minho já eram exportados para Inglaterra, séculos antes do Vinho do Porto. Com o recuso a castas quase desaparecidas como as Borraçal, Cainho e Alvarelhão, a que juntou agora um pouco de Vinhão, os vinhos eram então designados por "parduscos" pela sua cor aberta. Ou seja, parda. Além da cor pouco concentrada, este Pardusco é também muito leve e aromático, o que o torna guloso, consensual e sedutor. Um vinho raro que é também uma pechincha pelos cerca de oito euros que custa cada garrafa.
Gouvyas Reserva Branco 2004
Um branco de luxo e que arrasa por completo a ideia (já ultrapassada) de que em Portugal não se fariam grandes vinhos brancos. Quase dez anos e uma vivacidade e afinação exemplares, a provar que Luís Soares Duarte e João Roseira estavam no caminho certo quando, no dobrar do século, apostaram em fazer grandes brancos do Douro. Corpo, estrutura, complexidade aromática e acidez mineral, em louvor às vinhas velhas das zonas mais altas do Douro, onde predominam castas típicas como Rabigato, Viosinho e Côdega do Larinho, e à qualidade do trabalho de adega. Este 2004 será talvez o mais afinado de uma série que começou em 2000, mas do qual restam já muito poucas garrafas. Há ainda os 2005 e 2007 e a esperança de que estejam a caminho da mesma afinação. Muito difícil de encontrar.
Afros Loureiro 2009
Um Verde moderno e muito bem desenhado, que mostra o potencial de envelhecimento da casta. Aromas frescos dos campos húmidos e verdejantes, com notas cítricas e algo de pêra na boca também marcada por uma acidez suave e cremosa. Um vinho fresco, elegante e delicado, que foge aos cânones típicos dos verdes e por isso com muito maior aceitação no exigente mercado externo que na procura indígena. Grande parte desta colheita de 2009 estará mesmo em Nova Iorque, no famoso restaurante Per Se, e a restante em outros lugares de topo da restauração brasileira. Na mesma linha também os Loureiro da Quinta do Ameal, Royal Palmeira, Muros Antigos e Clipe do Monte da Vaia. Custa 7€.
Quinta de Lemos Tinta Roriz 2006
Um bom exemplo do potencial e amplitude da casta quando trabalhada no Dão e em condições favoráveis. Cor fechada, aromas vivos de framboesas e especiarias e boca elegante, quase sedosa, com estrutura, tanino vivo e uma frescura mineral que faz dos 14,5 % de álcool um mero pormenor. Pede comida e, se possível, ainda mais algum tempo de garrafa. Não é o melhor nem o mais cotado vinho da casa, muito menos da região, mas um exemplo didáctico de como deveriam ser os vinhos do Dão. Profundos, únicos e elegantes, desde que criados com primazia da qualidade sobre a quantidade e uns aninhos de adega par lhe amaciar os ímpetos. 30€
Covela Edição Nacional 2012
Uma das mais refrescantes novidades da temporada vinícola. Em boa hora Rui Cunha, o enólogo da casa, apostou na feitura de um vinho com o selo regional, numa casa que até então privilegiava as castas de origem internacional. Na região dos Verdes mas já colada ao Douro, a casta Avesso é a rainha da encosta da margem direita e foi que foi lançada a Edição Nacional. Vinho intenso e fresco, com notas de mineralidade granítica, aroma furtado e um final seco e muito elegante. Excelente equilíbrio entre a frescura dos Verdes e o calor do Douro e uma amplitude que tanto o recomenda para os prazeres da mesa (pratos leves e refrescante) como para a simples degustação de convívio. Preço: 8€.