É razoavelmente fácil e consensual escolher grandes vinhos, mas é difícil e por definição sujeito aos erros da subjectividade determinar os melhores entre os melhores. O vinho avalia-se pela pré-disposição dos sentidos, pela companhia, pelo acompanhamento gastronómico, pela forma como correu o dia ou a semana a cada um dos provadores. Se muitos das seus componentes são mensuráveis pela análise química, o prazer que as suas combinações produzem nos sentidos dependem sempre mais de um estado de espírito pessoal do que da sua realidade intrínseca. Ainda assim, apesar de se saber que estes avisos devem estar presentes sempre que se escolhe um best of, os jornalistas da FUGAS que escrevem sobre vinhos decidiram correr riscos e passar a pente fino um ano de provas, de apresentações e de celebrações.
Na categoria dos vinhos do Porto a efeméride dos 50 anos do mítico vintage de 1963 proporcionou algumas revisitações a esses vinhos que confirmaram uma verdade consensual: esse ano marcou o fim da estagnação do mercado do Vinho do Porto que persistia desde o final da II Guerra Mundial porque foi, e é, de facto um dos anos mais extraordinários do século XX. Entre muitos vinhos testados em provas horizontais o Noval Nacional raramente escapou ao consenso de ser o maior entre os maiores. Mas houve outras boas notícias e algumas surpresas. Os Taylor’s estão muito bem e o Warre’s apresenta um conjunto de subtilezas simplesmente notável. Ainda sobre 1963 viram a luz do dia alguns Colheita memoráveis.
Neste ano chegaram ao mercado os Vintage de 2011, desde logo eleitos os melhores entre os melhores de sempre. Jancis Robinson escreveu no Financial Times que nunca tinha ficado tão "excitada" com o lançamento de uma nova leva de vintage como este ano. Vários vinhos obtiveram 100 pontos em revistas internacionais. Sôfrego de boas notícias, o mercado correu às lojas e muitas das grandes marcas de Porto esgotaram já os seus stocks. A produção deste ano é bastante menor do que a de 1994, por exemplo, pelo que a pressão da procura sobre a oferta tenderá a elevar a cotação dos 2011 para valores muito acima da média.
Mas nem só de grandes Porto se fez a história das provas no ano que se apressa a acabar. Revisitaram-se clássicos como o Barca Velha e comprovou-se que a sua penúltima edição, a de 2000, é uma obra-prima do Douro que está a passar muito bem pelos efeitos do envelhecimento. Outros clássicos como o Mouchão Tonel 3-4 de colheitas mais remotas mostraram que o perfil de envelhecimento da Alicante Bouschet é peculiar e gera vinhos de extrema subtileza e qualidade. E, uma vez mais, a Bairrada e o Dão mostraram que o tempo confere aos seus vinhos uma dimensão a que dificilmente as outras regiões do país conseguem chegar.
Nesta análise entram, como não podia deixar de ser, os vinhos estrangeiros. Um grande vinho, pode afirmar-se recorrendo à velha terminologia marxista, não tem pátria. Mesmo sabendo-se que a natureza gerou pátrias com diferentes potencialidades para a sua criação, por vezes constata-se que nem só da França ou dos clássicos recorrentes da Europa vêm boas surpresas. Neste jogo de surpresas permanentes os grandes vinhos podem também vir da Grécia. Ou do Brasil.