Fugas - Vinhos

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“As vinhas de Toro são uma coisa única”

Como chegou a Toro?

Depois de 10 anos em Espanha, onde me formei em Agronomia com especialização em Enologia, regressei a Portugal para ir trabalhar na empresa da minha família, as Caves Messias. Ainda fiz uma vindima, mas em 1996 surgiu a oportunidade de ir trabalhar para a Rozés, no Douro, e achei que era importante explorar novas mentalidades, novas formas de trabalho, novas tecnologias, sempre com a ideia de voltar um dia a casa. Na altura, a Rozés pertencia ao grupo da Möet & Chandon e em 1999 fui convidado para ir fazer os espumantes da Chandon na Argentina e fiquei lá uma década [durante este período, assumiu a direcção da enologia e da viticultura da empresa Cheval des Andes e Terraza de los Andes, gerindo três marcas e mais de 900 hectares de vinhas].

Em 2008, fui pela primeira vez às caves Numanthia e depois de conhecer as vinhas da região e de ter participado do assemblage do Termanthia, Numanthia e Termes 2006 percebi que queria fazer aqueles vinhos extraordinários. E aqui estou. [Manuel Louzada ainda chegou a ser convidado para chefe de cave da famosa casa de Champanhe Ruinart, mas a opção Toro acabou por prevalecer].  

O que veio descobrir de novo em Toro?

Sou da Bairrada, cresci entre a bairrada e o Douro, depois fui para a Argentina, o deserto onde se fazem vinhos mais na óptica do negócio, com áreas de vinha enormes e uma grande homogeneização, e em Toro vim encontrar vinhas muito velhas, alguns com perto de 200 anos. É uma coisa única.

As vinhas de Puertas Novas que comprámos o ano passado [duas parcelas pequenas de Tinta de Toro e algum Moscatel, com vinhas em vaso e por aramar, de tronco grosso e braços a penderem para o chão] têm cerca de 150 anos. São vinhas notáveis mas difíceis. O movimento da seiva é tão irregular nestas vinhas muito antigas que num braço podemos ter uma uva madura e no outro uma uva menos madura…

Mas esse é o desafio que se coloca a qualquer enólogo perante uma vinha velha... Não é mais aliciante recorrer a esse jogo de compensação entre as diferentes castas ou, neste caso, entre os diferentes braços da mesma videira do que querer tudo maduro ao mesmo tempo?

Sim, mas nós temos que ter um mínimo de maturação na videira. O segredo nas vinhas de Toro é podar a videira de modo a distribuir a carga de forma homogénea pelos diferentes braços, para que as folhas façam a fotossíntese ao mesmo tempo e protejam as uvas do sol. De qualquer forma, as vinhas velhas já se auto-regulam. Só para ter uma ideia das condições da viticultura em Toro, entre o dia 1 de Novembro de 2011 e o dia 30 de Outubro de 2012 tivemos uma precipitação de 192,5 milímetros, metade do que as cepas precisam.

Como é que elas sobrevivem e perduram durante tanto tempo?

Uma das razões é as vinhas serem em pé franco [enraizamento directo da videira produtora, sem recurso a porta-enxerto]. O solo é de areia e a areia protegeu as videiras da filoxera. Por outro lado, a areia funciona como uma esponja. O que chove é imediatamente absorvido pelo solo. A água penetra na areia e vai directamente até à capa de argila que existe por baixo e onde a raiz da videira vai buscar a humidade. Toda a pouca água que cai é absorvida e aproveitada pela planta.

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