Fugas - Vinhos

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“As vinhas de Toro são uma coisa única”

Em Toro, onde talvez exista o maior legado de vinhas velhas do mundo, o exemplo de Numância serve de metáfora à forma de fazer viticultura. Apesar das condições extremas em que as videiras crescem, em solos de areia e com muitíssima pouca água e sujeitas a invernos rigorosos (as vinhas situam-se a altitude que que vai dos 600 aos 750 metros e as temperaturas descem frequentemente abaixo dos 10 graus negativos), as vinhas conseguem resistir a várias gerações de proprietários. E serviu também de inspiração aos irmãos Eguren, da Rioja, quando em 1998 criaram as Bodegas Numanthia Termes, vendidas dez anos depois, por mais de 25 milhões de euros, ao grupo LVMH.

A venda incluiu a adegas, as três marcas – Termanthia, Numanthia e Termes- e 40 hectares de vinhas. No mesmo ano, os irmãos Eguren criaram uma nova adega, Tejo la Monja, que dá nome ao vinho mais caro de Espanha: 900 euros a garrafa (são produzidas apenas algumas centenas de garrafas).  

A região demarcada de Toro (situada entre Zamora e Valladolid, na bacia do Douro) foi apenas criada em 1987 e até então os vinhos eram consumidos na região ou vendidos a granel. A mudança começou com as Bodegas Fariña, que, com o seu tinto Gran Colegiata, chamou a atenção de Robert Parker. E as altas pontuações dadas por Parker chamaram a atenção de outros homens do vinho, em especial Mariano Garcia, que na altura fazia o mítico Veja Sicília.

Em menos de uma década, instalaram-se em Toro mais de 30 novos produtores, alguns vindos de Franca, como Gérard Depardieu, François Lurton e Michel Rolland, atraídos pela possibilidade de trabalhar com vinhas centenárias. O antigo como motor da modernidade. E o que era uma região desconhecida de Espanha tornou-se em poucos anos num dos seus principais spots vitivinícolas.

Este pequeno “boom” não impediu, no entanto, que a área de vinha em Toro continuasse a encolher. A região já foi um dia mar e as transformações geológicas que se foram dando ao longo dos tempos e que levaram à formação da bacia do Douro deixaram a zona assente numa vasta camada de areia, argila e cal. Precisamente por causa da areia, as vinhas de Toro tornaram-se nas últimas décadas alvo da cobiça dos construtores. Mesmo junto à cidade de Toro são visíveis enormes crateras rodeadas de vinha onde foi extraída areia.

Hoje, a área de vinha de Toro ronda os 5500 hectares. Destes, 500 a 600 hectares são de vinhas centenárias, muitas delas pré-filoxéricas.

É de um destes vinhedos muito antigos, conhecido por Teso los Carriles (tem 4,78 hectares e terá sido plantado entre 1870 e 1890), que vêm as uvas para o tinto Termanthia, o vinho de topo das Bodegas Numanthia. O Termanthia tornou-se numa referência mundial após a revista Wine Advocate, de Robert Parker, ter dado 100 pontos à colheita de 2004. A produção deste vinho nunca passa das seis mil garrafas e cada uma custa cerca de 140 euros (cerca de metade do vinho é vendido nos Estados Unidos). A produção por hectare é de apenas 1600 quilos.

Apesar da raridade das uvas, da casta Tinta de Toro (variante local da casta Tempranillo, a nossa Tinta Roriz, e que se distingue desta por ter um bago mais pequeno, muito rico em cor e tanino), todas os cachos para Termanthia são sujeitos a uma selecção extrema, de modo a obter um calibre uniforme dos melhores bagos. As uvas são depois pisadas a pé em pequenos balseiros.

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