Fugas - Vinhos

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“As vinhas de Toro são uma coisa única”

As raízes estão a que profundidade?

Depende de onde está a capa de argila. Se esta está a um metro e meio, as raízes estão a um metro e meio; se a argila está a cinco metros, as raízes estão a cinco metros.

É verdade que em existe a ideia de tentar certificar o solo de Toro, para poderem plantar em pé franco?

É verdade. Proibiu-se a plantação em pé franco por pressão dos franceses e dos italianos, mas, se nós temos aqui um solo que nunca teve filoxera e que não permite o desenvolvimento da doença [provocada por um insecto que ataca a raiz da videira e que na segunda metade do século XIX dizimou grande parte dos vinhedos europeus], não faz sentido estar a plantar com porta-enxerto.

O pé franco tem os seus desafios, não é fácil, mas a vida útil de uma vinha com pé franco é muito mais longa do que a de uma vinha com porta-enxerto. Nos países com visão de negócio, onde só se utiliza o porta-enxerto, aos 30, 35 anos já se está a arrancar a vinha para voltar a plantar. Em Toro, para o nosso vinho de entrada, o Termes, usamos uvas de vinhas com essa idade.

No ano passado disse ao Daniel [o viticólogo das Caves Numanthia] que tínhamos de plantar uma vinha e ele respondeu-me que podíamos esperar mais um ano, até porque essa vinha só iria dar uvas para o vinho Numanthia daqui a 50 anos!. ‘Não’, respondi-lhe, ‘se plantarmos para o ano que vem só daqui a 51 anos!’. Em Toro temos uma visão temporal muito diferente, é como plantar sobreiros em Portugal. Estamos a plantar para a geração dos nossos netos. Mas esse é um desafio fantástico.

Os vinhos de Toro sempre foram tintos e rústicos?

Sim. Os vinhos aqui eram para beber com tapas à base de chouriço e queijo e o vinho tinha que ter carácter para aguentar a força do chouriço e do queijo. O vinho de Toro [muito concentrado, estruturado e alcoólico] só começou a ganhar projecção internacional quando se deu uma inversão em direcção à elegância.

Para um enólogo que tem viajando tanto pelo mundo, qual é o próximo desafio?

Eu vou fazer 45 anos e não tenho problema nenhum que o meu próximo desafio seja na Nova Zelândia ou na China, desde que seja um desafio divertido e me permita continuar a aprender.

Já há algum dia sentiu o peso de ser português, apesar de ter um apelido espanhol (Louzada)?

Eu sou português, da Bairrada. O momento mais difícil da minha vida foi quando tinha 13 anos e a minha mãe me disse: ‘Manuel, vamos viver para Espanha’. Caiu-me o mundo inteiro em cima. Aos 13 anos, tens os teus amigos, as tuas rotinas, e ter que deixar o país foi como cortar todas as raízes que tinha. Mas chegou o momento em que comecei a perceber que sair do país, em vez de te limitar, te abre novos horizontes e oportunidades, te permite ganhar novas amizades.

Eu sinto ter essa vontade tão portuguesa de viajar pelo mundo e de explorar culturas diferentes. Tive muitíssima sorte de ser até este ano o responsável pelo seguimento qualitativo dos vinhos do grupo em todo o mundo [Além de Espanha, a LVMH faz vinhos na Argentina, Austrália, Estados Unidos e França, onde detém as marcas de champanhe Möet &Chandon, Veuve Clicquot, Ruinart, Krug e Dom Perignon].

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