Os seus vinhos de topo inscrevem-se nos padrões de classe das marcas mais exigentes do Alentejo e as suas gamas médias apresentam propostas cheias de garra e de graça. Em terras de xisto, em colinas de maior altitude, o cuidado com a vinha é a marca de uma casa que exporta 85% do que produz.
As cores do Outono tomaram conta das vinhas da Quinta do Zambujeiro, as adegas estão já limpas e à espera da vindima de 2015 e os únicos vestígios de actividade estão agora nos escritórios das equipas de venda ou nas áreas de armazém de onde saem os vinhos para o mercado. No ar, porém, ainda se sentem os aromas de esteva que conferem ao lugar a atmosfera mediterrânica que se detecta na complexidade dos vinhos do Zambujeiro.
Ali, a escassos quilómetros de Borba e de Estremoz, nas faldas da Serra d’Ossa, em encostas mais elevadas e dominadas pelos solos xistosos, o Alentejo é diferente. Mais clássico, mais complexo, igualmente quente e profundo. Na identidade plural dos vinhos regionais, os Zambujeiro estão na gama onde se situam os Mouchão, os Quinta do Carmo ou os Pêra Manca — são vinhos de uma outra estirpe, que só há muito pouco tempo começaram a receber do mercado nacional a atenção que merecem.
No princípio, havia o golfe e o sol do Algarve, até que um engenheiro mecatrónico de nacionalidade suíça que vive e trabalha em Singapura se decidiu dedicar à produção de vinho em Portugal. “O objectivo inicial do projecto era fazer um vinho capaz de ser reconhecido mundialmente”, explica Andrea Anselmo, responsável pelo departamento de vendas.
Em 1998, Ernst Ziegler comprou a Quinta do Zambujeiro, onde havia vinhas com 30 anos de idade com as castas Alicante Bouschet e Trincadeira, e a aventura começou. Primeiro, com um acordo com a distribuidora suíça Globalwines, que garantia o escoamento da totalidade da produção. “Em 2003, quando colocámos no mercado as colheitas de 1999, foi tudo vendido para lá”, recorda Nuno Malta, gerente da empresa desde essa data. Nessa altura, porém, a produção ficava entre as 10 e as 20 mil garrafas por ano. Hoje a Zambujeiro coloca aproximadamente 100 mil garrafas de vinho tinto no mercado, mais 6000 de vinho branco.
Para chegar a esta marca, a Quinta do Zambujeiro lançou uma operação de plantação de novas vinhas, que fez subir a área produtiva do núcleo central da empresa, nas imediações de Rio de Moinhos, para os 22 hectares. A Alicante Bouschet, obviamente, continuou a merecer especial atenção da equipa de viticultura, mas nas vinhas novas foram plantados blocos com Touriga Nacional ou Petit Verdot. A Castelão, pelo contrário, “era pouco interessante”, na avaliação de Nuno Malta, e em 2007 as suas cepas foram reenxertadas com as castas consideradas mais aptas ao perfil dos vinhos da casa e às condições naturais do Zambujeiro. Por outro lado, a empresa decidiu arrendar para exploração própria 12 hectares em Orada, mais perto de Borba, e comprou mais quatro hectares no lugar dos Arcos, perto da sede da freguesia da Glória.
A gestão das vinhas é considerada pela equipa do Zambujeiro como a questão crucial para a determinação do perfil dos vinhos que produz. Nas encostas de xisto junto à sede, de onde saem os lotes superiores, a rega é dispensada. A poda verde é levada a extremos, chegando a índices de cortes de cachos que representam 60% da produção. Nuno Malta estabelece que o limite de produtividade ronda as 3,5 a quatro toneladas de uvas por hectare, o que leva a empresa a “gastar mais com pessoal na monda dos cachos do que na vindima”.