Pedra, Pinot, Pinotage. Já vamos na África do Sul e continuamos perdidos no atlas do Vinho. Se fizermos um desvio chegamos à Geórgia e descobrimos que deve ter sido ali que a cultura do vinho começou. Surpreendido?
Sim, sim. E a Crimeia, faz-lhe lembrar o quê, uma guerra entre ucranianos e russos por um bocado do mar Negro e de orgulho? Pois, mas na Crimeia também se fazem espumantes, brancos secos e extraordinários vinhos fortificados tipo Madeira e vinho do Porto. Pergunte a um “crimeu” (neologismo acabado de criar) se já ouviu falar em vinho português? Com sorte, pode apanhar um doido pela bola, adepto do Shakhtar Donetsk, que deve lembrar-se de uma viagem ao Porto a acompanhar a sua equipa num jogo da “Champions” e da visita que fez às caves de Vila Nova de Gaia, onde envelhece o vinho do Porto, um vinho que, na verdade, nasce a mais de 100 quilómetros de distância mas que ganhou nome de “Porto” por vontade dos ingleses, apesar de no Porto só se produzir Vinho Verde. Confuso?
Experimente entrar no mundo do vinho do Porto. Quando olhar para o número de categorias e menções, vai achar que estes lusitanos são loucos, e são mesmo. Nem nós, portugueses, sabemos nada de vinho do Porto. Isso é coisa very british, basta ver os nomes : Tawny, Ruby, Vintage, Late Bottled Vintage. Não é uísque, é mesmo vinho do Porto, produzido no Douro há mais de 300 anos, bebido mundo fora por gente que nem faz ideia de onde o vinho vem.
Ri-se? Acha mesmo que quando Jimmy Hendrix se deixou fotografar a beber Mateus Rosé sabia que estava a beber um vinho português? Nessa altura, o Mateus vendia-se em quase todo mundo, era a nossa grande marca global. Tão global que foi perdendo a origem. Em 1971, numa cimeira da Organização de Unidade Africana, em Lagos, na Nigéria, que acabou a condenar Portugal pela tentativa de invasão da Guiné-Conakri, a bebida mais pedida ao jantar foi o portuguesíssimo Mateus Rosé!
A notícia chegou a Portugal pelo Financial Times, com o humor fino dos ingleses, esses finórios que sempre souberam o que é bom, embora não saibam fazer grande coisa, além de gostar de futebol, cerveja e vinho (it’s a joke, claro!) Gente simples que só se contenta com o melhor, como diria o Oscar Wilde e o Churchill seguia à risca. Este sim, sabia quase tudo sobre o bom vinho do Porto e Madeira. Chegou até a comprar pipas de algumas boas colheitas. Bebeu tudo, consta.
Os portugueses sempre foram bons nisso. Durante muito tempo bebiam tudo o que produziam. Fosse mau ou muito mau. Agora, consumimos menos e produzimos grandes vinhos. Até já aparecemos em primeiro lugar nas revistas internacionais. Portugal, the next big idea. Já andam a dizer isto há vinte anos. Um dia vai ser. “A glass of Rabigato, please?”. Rabo de gato? Mas não era uma tal de Sauvignon Blanc que cheirava a xixi de gato?
Quer mesmo ficar a saber alguma coisa sobre o vinho português? Continue a ler.
Vinho português: 11 noções básicas
1. Geografia
Apesar de ser banhado pelo oceano Atlântico, Portugal possui um clima e uma cultura mediterrânicas. Na parte continental, a temperatura média anual varia entre os 4ºC no interior norte montanhoso e os 18ºC no sul. Em contrapartida, nas ilhas atlânticas, tanto do arquipélago da Madeira como do arquipélago dos Açores, o clima tem características subtropicais, com temperaturas tipicamente primaveris. Sendo um país pequeno (92 072 km2), Portugal possui uma grande diversidade de paisagens (mais planas no sul, mais montanhosas no centro e no norte). Esta diversidade é também notória nos vinhos. Regiões separadas por escassos quilómetros produzem vinhos completamente diferentes. É aqui que reside a grande riqueza do vinho português.