Fugas - Vinhos

  • Alma Valley, Crimeia
    Alma Valley, Crimeia

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Uma volta pelo novo mundo do vinho

Crimeia 

Rumemos agora ainda mais a Leste. Até à Crimeia. A Crimeia produz vinhos há séculos. Na era de Catarina, a Grande, na segunda metade do século XVIII, a península era a responsável pela produção dos vinhos da corte, geralmente fortificados e doces. Nesse tempo, alguns dos vinhos mais apreciados da Europa, como o Porto ou o Xerês, começaram a ser replicados nas suas adegas. Ainda hoje o são. A Massandra, uma empresa representada em Hong Kong por duas mulheres de estilo soviético e por uma intérprete que se esforçava a cada passo por quebrar a natural antipatia que exibiam, produz ainda hoje um Red Port que, apesar da sua boa acidez, é uma clamorosa desilusão pela sua falta de intensidade e balanço. O Alushta, um tinto feito em partes iguais com as castas Saperavi (voltaremos a falar dela) e Cabernet Sauvignon seleccionadas entre os 10 mil hectares de vinhas da companhia estatal, confirma a desilusão. Cru, excessivamente rústico, sem uma ponta de complexidade, é um vinho de outro tempo – como a empresa, aliás.

Mas não há que desistir da experiência na Crimeia. Nas colinas ocidentais da península, no vale de Alma, onde teve lugar uma das principais batalhas da Guerra da Crimeia, que entre 1853 e 1855 opõe turcos, franceses e alemães aos russos, nasceu já este século uma experiência que vale a pena conhecer. Ali, o regime de chuvas (450-600 milímetros por ano) é favorável, a brisa do mar Negro tempera o calor do Verão e só o Inverno dá problemas aos viticultores, principalmente quando o termómetro desce abaixo dos 20 graus negativos e obriga a proteger as plantas do gelo extremo. Não admira que nessas colinas a vinha seja uma história antiga. Que, no entanto, foi suspensa com a campanha anti álcool de 1985 e com a crise económica acentuada com o fim do império soviético. As vinhas foram então abandonadas e assim ficaram até 2005.

Nesse ano, o projecto empresarial Alma Valley apostou na ressurreição dos vinhedos da região. Especialistas suíços foram contratados para escolher castas e orientar as plantações, iniciadas em 2008, e que hoje abrangem 160 hectares. A opção variou entre castas francesas ou espanholas (a Tempranillo, que em Portugal se conhece como Tinta Roriz, ou, no Alentejo, Aragonez) e variedades locais, como a tinta Kefesia. Em 2013 construiu-se uma adega imponente e Thomas Doll, um enólogo alemão com vasta experiência no seu país natal, na Espanha e na Austrália, começou a fazer os primeiros vinhos. Ao contrário da Massandra, na Alma Valley tudo é profissional. Por isso os vinhos são promissores, apesar de o potencial de uma vinha tão jovem estar ainda por explorar.

Os tintos e brancos da Alma Valley conseguem um muito interessante balanço entre a natureza internacional das castas que lhes dão origem e a marca da região onde crescem. O que melhor marca o seu perfil é uma notável frescura. A mineralidade dos brancos é muito atraente e uma certa dimensão vegetal dos tintos torna-os muito aptos para acompanhar comidas fortes. O Merlot de 2013, que passou 12 meses em carvalho de Karabakh, é talvez o mais bem conseguido de todo o portefólio. Com um volume alcoólico prudente (13%), apresenta uma bela estrutura, volume, persistência e complexidade. Custa oito euros à saída da adega, o que não é mau para um tinto deste porte. Infelizmente (para Sergey Chigrin, o director comercial da empresa, e também para nós), o embargo decretado pela União Europeia aos produtos russos na sequência da invasão da Ucrânia, impedem a sua circulação entre nós.

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