Fugas - Vinhos

  • Alma Valley, Crimeia
    Alma Valley, Crimeia

Uma volta pelo novo mundo do vinho

Por Manuel Carvalho

A ciência, as mudanças climáticas e o sucessivo crescimento do mercado estão a abrir novas portas no planeta do vinho. De regiões antigas que a história congelou a novos actores, não faltam exemplos de que está na hora de acabar a divisão dos produtores entre os do Novo e do Velho Mundo e admitir a existência de um “novo” Novo Mundo.

O mapa mundi dos vinhos continua a mudar, cada vez mais rapidamente. Hoje, já faz pouco sentido falar do Novo Mundo, por oposição às produções europeias do Velho Mundo. Porque no ritmo da mudança, com as plantações de vitis vinífera a expandirem-se aceleradamente no sul de Inglaterra, em estados americanos como o Nebraska ou Virgínia, ou em países ainda mais setentrionais como o Canadá, as produções da Austrália ou da África do Sul merecem já ser vistas como “antigas”. E neste compasso de transformação empurrado por um negócio cujas exportações duplicaram em valor nos últimos 20 anos, não há apenas a ter em consideração o aparecimento de novos actores que importam castas europeias, contratam técnicos europeus e levam as suas marcas aos consumidores à boleia do reconhecimento dos estilos de Bordéus ou da Borgonha, ou às costas da fama da Chardonnay ou da Pinot Noir. Nos anos recentes, também velhas nações vitícolas como a Moldova, a Geórgia ou a região da Crimeia, recentemente anexada pela Rússia à Ucrânia, decidiram regressar ao jogo.

Um bom lugar para nos apercebermos do mapa das mudanças é uma feira mundial de vinhos como a que no princípio deste mês teve lugar em Hong Kong. Claro que quem passasse pelos seus intermináveis pavilhões haveria de dar conta que neste jogo em que o reconhecimento e o prestígio valem mais do que o risco e a incerteza, os franceses, italianos, espanhóis, alemães ou australianos ditam as regras do jogo. São eles quem ocupa mais espaço e suscita mais atenção. Os portugueses estavam em grande plano, principalmente porque a produção nacional funcionou este ano como a estrela do evento (45 produtores presentes). Mas entre o brilho dos grandes pavilhões, em balcões mais discretos e menos merecedores da atenção do público, era possível encontrar vinhos do Cazaquistão, da Roménia, do México ou, como não podia ser, da China.

O que dizer destes vinhos? Que, como em tudo, há alguns bons e outros fracotes. Depende. Podemos até encontrar alguns acima do bom, principalmente os provenientes de países com tradições milenares na viticultura mas que só agora estão a despertar para a globalização do vinho. O que é certo é que muitos se nos apresentam numa feição irrecusável: são diferentes. São feitos com castas diferentes, em solos e climas diferentes, com tecnologias por vezes originais. Mas, confessemos, que muitos outros, talvez até a maioria, não passam de cópias de originais europeus. Nestes casos, serão vinhos para competir pelo preço, nunca pelo prestígio e pela qualidade. Haverá decerto lugar para todos.

Roménia

Comecemos a viagem no interior do espaço europeu e euroasiático outrora controlado pela União Soviética. Na Roménia, por exemplo. Na região de Vrancea, na Moldávia romena, produzem-se brancos com a casta Feteascã Regalã que propiciam aromas algures entre o moscatel e o Gewurztraminer. O Stefan cel Mare, uma marca que se inspira na lenda de um rei (Estevão III) consegue ainda assim um balanço seco e alguma mineralidade. É um vinho interessante que, na Roménia, se pode comprar por 1.40 euros. Nada mau. Já um Chardonnay da região de Insuratei tem outros pergaminhos. Uma sensação cítrica e fresca muito agradável é talvez a sua principal arma. O potencial romeno, porém, não se fica apenas pelos brancos (ou pelos preços arrasadores com que está a exportar as suas produções). Os tintos feitos a partir das castas Feteascã Negra e Babeasca Negra são secos, mostram taninos com garra, volume e uma acidez muito interessante.

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