Fugas - Vinhos

  • Alma Valley, Crimeia
    Alma Valley, Crimeia

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Uma volta pelo novo mundo do vinho

Não tanto os tintos, seja o Pinot Noir de 2013 ou o Saperavi de 2012, que, sendo vinhos muito interessantes (as notas de tabaco do Pinot e a fruta pujante do Saperavi), não reúnem potencial para fazer a diferença no exigente mercado mundial. O mesmo já não se pode dizer dos brancos, que, na generalidade, são vinhos cheios de carácter e de uma fineza encantadora. O Riesling de 2013 é um vinho vibrante, com excelente fruta e um final de boca apetrolado, como é timbre dos bons exemplares da casta. O Gewurztraminer, também de 2013, não obedece ao perfil convencional desta estirpe (simplificando, não tem o aroma a água de rosas), mas é um vinho elegante, muito mineral e fresco e com sugestões de fruta deliciosas. Finalmente, o Chardonnay é um vinho com excelente acidez e um balanço muito equilibrado. Melhor na boca do que no nariz é um belo vinho que, como os seus pares, começa a suscitar atenção internacional – os brancos da Arba foram premiados no concurso internacional da companhia aérea Cathay Pacific deste ano. Para reforçar o seu valor, note-se que todos apresentam um volume alcoólico inferior a 13%.

China

O vinho na China já não é uma questão do futuro: é o presente. Não que o gigante asiático seja depositário de uma grande tradição, ou dono de um património genético que remonta há séculos ou milénios. A força motriz do vinho chinês é o negócio. Uma força que no curto prazo de poucas décadas fez com que a China tenha plantado a maior área de vinha do mundo (770 000 hectares) e que se tenha tornado no sétimo maior produtor mundial, com 11.2 milhões de hectolitros por ano (em média, cerca do dobro da produção nacional).

A região chinesa mais conhecida situa-se no deserto de Ningxia, onde estão já plantados 32 mil hectares (uma área aproximada à do Douro actual), mas que em 2020 deverá crescer até aos 65 mil. Os problemas ambientais impostos à cultura pelo clima desértico são enormes – é necessário transportar água de longas distâncias para a irrigação e, no Inverno, as plantas têm de ser cobertas para evitar os danos do frio.
Um dos projectos mais emblemáticos da vinha e do vinho na China é partilhado por capitais locais e pelos franceses da Moet Hennessy, o Domaine Chandon. Da sua adega ultramoderna saem vinhos espumantes e tranquilos produzidos a partir de castas internacionais. Os resultados, porém, estão longe de ser entusiasmantes.

O Flowers Field of Rain de 2013 é um Riesling seco mas sem densidade nem alma. O Chardonnay ilude pelo seu belo aroma, mas na boca é ainda assim um vinho plano, sem rasgo nem carácter. E o Cabernet Sauvignon de 2012, que passou pela madeira, acaba por ser o único vinho provado capaz de augurar um futuro minimamente credível para a marca. Porque conserva os traços essenciais da casta, com taninos vegetais, aromas de pimentão e uma estrutura e acidez que lhe auguram algum potencial de envelhecimento.

Canadá

Atravessando o Oceano Pacífico e subindo pela costa da Califórnia até ao Canadá encontra-se o vale de Okanagen, em declives suaves acima do mar. O clima temperado ajuda a viticultura. A ciência contribui para que potenciais desvantagens naturais sejam anuladas. Aqui, a vinha é uma realidade nova. As que são exploradas pela empresa familiar de Murat Ozen nasceram há apenas 14 anos. A agricultura orgânica, a genética que dá origem a castas como a Sauvidal, uma mistura de Sauvignon e Vidal, e o experimentalismo que permite a criação de vinhos com forte concentração de fruta são a base do negócio e Murat Ozen, um canadiano bem disposto e ousado – até nas suas marcas, como a Forbiden Fruit (Fruto Proibido) -, sabe que é pela aposta nessas características que pode competir no difícil mercado mundial. O Forbiden Fruit orgânico de 2014, feito a partir de lotes de Sauvignon Blanc, leva esses conceitos ao extremo.

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