Fugas - Vinhos

  • Alma Valley, Crimeia
    Alma Valley, Crimeia

Continuação: página 3 de 5

Uma volta pelo novo mundo do vinho

Geórgia

Cruzando o Mar Negro em direcção a nascente, chega-se à Geórgia. Não é por falta de tradição que esta ex-república da URSS não tem um papel hegemónico no mundo dos vinhos. Na contabilidade dos próprios, a região faz vindimas há 8000 anos. Como se esta convicção não bastasse para convencer os mais cépticos, os georgianos dizem que a palavra que usam para designar as castas (“ghvino”) esteve na origem do termo que deu origem à palavra “vinho” nas diferentes famílias linguísticas da Europa. E como se mais este argumento não fosse suficiente, a Geórgia tem ainda a seu favor um impressionante património de castas: nada mais, nada menos do que 525. Ou seja, quase o dobro das existentes em Portugal, um país reputado pela sua extraordinária diversidade genética. As suas regiões estendem-se desde a orla do Mar Negro até à fronteira com o Azerbaijão. É neste extremo que se encontra Kakheti, famosa pelos seus Saperavi, uma casta tinta que funciona um pouco como a Touriga Nacional – um porta-estandarte dos vinhos georgianos.

A Khareba é uma empresa que dispõe de mais de mil hectares de vinhas espalhadas por diversas regiões. É, por isso, uma boa base para se partir à descoberta dos vinhos da Geórgia. Não há dúvida que os vinhos mais expressivos, marcantes e originais são os que são feitos com as castas Saperavi e Rkatsiteli, esta uma variedade branca. São vinhos directos, frugais, com uma boa secura, acidez e baixo volume de álcool. E todas essas dimensões se acentuam quando são vinificados nos ancestrais Qvevris, recipientes similares às talhas que se usam no Alentejo. Nestes casos, os vinhos ganham outra profundidade, adquirem por vezes notas balsâmicas e conquistam alguma complexidade. Mas, não é pelo estalo nos sentidos que vale a pena conhecer o vinho georgiano: pelo contrário é pela sua singular simplicidade e pela precisão dos seus contornos. Não são e talvez nunca sejam vinhos de classe mundial. Mas são ideais para dar algum descanso a palatos cansados de com excesso de fruta ou de álcool.

Cazaquistão

Para se chegar ao mundo reconstruído pela Arba Wine é preciso prosseguir a viagem ainda mais para Oriente, atravessar o mar Cáspio e chegar perto de Almaty, a grande cidade do Cazaquistão que foi capital do país até 1997 – ano em que uma cidade nova foi edificada em Astana, numa posição mais central deste enorme país. Aí, num vale circundado por montanhas onde a neve é persistente, o Assa, há muitos anos que a viticultura foi experimentada e desenvolvida. Mas, como aconteceu na Geórgia, as campanhas anti-álcool dos anos de 1980 levaram a cultura ao abandono. Só muito recentemente investidores privados decidiram recuperá-la. Como acontece tantas vezes nestes países, à custa de investimentos gigantescos. Para os dirigir, foram contratados vários consultores de viticultura de prestígio internacional, como o italiano Mario Fregoni, ou enólogos vindos de França ou da Alemanha.

Na extensa planície do vale de Assa ou nas colinas adjacentes onde a Arba tem as suas vinhas, foram plantadas as variedades internacionais mais conhecidas – Pinot Noir, Chardonnay, Gewurztraminer ou Syrah – juntamente com castas que conhecemos da Geórgia – a Saperavi ou a branca Rkatsiteli. O clima, ameno no Verão e duro no Inverno, e as características do solo (granítico) são excelentes para a viticultura. E, como não podia deixar de ser, os vinhos da Arba Wine, produzidos sob orientação de consultores internacionais, são a expressão desse potencial.

--%>