O alentejano João Portugal Ramos seguiu-lhes as pisadas (faz vinhos na Quinta da Bica). Casas com alguma história, como a Passarela, sofreram uma reviravolta de 360 graus e estão hoje a produzir vinhos notáveis. E há diversos empresários de outros sectores que têm vindo a fazer grandes investimentos no enoturismo, de que o melhor exemplo é o projecto Quinta de Lemos.
O Dão está mesmo a mexer, impulsionado por gente de fora e de dentro, por “séniores” e “júniores” que acreditam que o futuro do vinho português também passa por ali. Mas o caminho nunca será o mercado de massas, nem assentará nos vinhos tecnológicos carregados de fruta que estão a cegar muitos produtores. Os vinhos que podem trazer de novo o Dão para a ribalta terão que ser tributários do “terroir” e da cultura da região, dos fantásticos brancos e tintos feitos por Alberto Vilhena no Centro de Estudos Vitivinícolas do Dão e dos ensinamentos de enólogos veteranos. Sem esquecer uma série de produtores que não se conformaram com o definhar da região e que, através do seu exemplo e criatividade, têm sido uma fonte de inspiração para as novas gerações.
Três séniores
Manuel Vieira
(Ex-Sogrape)
Manuel Vieira chegou ao Dão, vindo do Douro, no final dos anos 80 do século passado. Encontrou uma região em crise, dominada por cooperativas amadoras, com pouco muito pouco trabalho académico disponível e algumas das melhores castas a caminho da extinção. Esteve na origem do projecto da Quinta dos Carvalhais, cuja adega foi inaugurada em 1990, ano de lançamento do primeiro Duque de Viseu. No mesmo ano, Manuel Vieira vinificou também o primeiro branco de Encruzado com fermentação em barrica, à moda da Borgonha. Foi o início de um trabalho notável na recuperação e promoção das melhores castas do Dão, desde a branca Encruzado às tintas Touriga Nacional, Alfrocheiro, Tinta Roriz e Jaen. Em duas décadas, em boa parte graças ao trabalho de Manuel Vieira, a Quinta dos Carvalhais desenvolveu um gama de vinhos notáveis, entre brancos, tintos, espumantes e colheitas tardias, e tornou-se numa referência no Dão. Hoje, Manuel Vieira já não trabalha na Sogrape. Reformou-se e foi substituído por Beatriz Cabral de Almeida, que já criou um novo vinho tinto, o Grão Vasco Prova Maestra. O primeiro Reserva, de 2013, saiu recentemente e é um belo tinto, muito elegante, fresco e gastronómico. Mas o “senhor Encruzado”, como ficou conhecido, continua ligado ao Dão, agora como consultor do projecto Caminhos Cruzados. P.G.
Álvaro de Castro (Quinta da Pellada)
Álvaro de Castro é o rosto e a alma dos vinhos das Quintas da Pellada e de Saes, em Pinhanços, Seia. Fixou-se no Dão em 1980, quando herdou a Pellada e passou a dedicar-se em exclusivo à produção de vinho. Desde então, e apesar de não ser enólogo (é formado em Engenharia Civil), criou alguns dos mais extraordinários vinhos da região, como o branco Pellada Primus e os tintos Quinta da Pellada, Quinta da Pellada Carrossel, Pape e Doda, este em parceria com Dirk Niepoort. Álvaro de Castro interrompeu um hiato de duas gerações na produção de vinho na família e já tem sucessor, a filha Maria Castro, que partilha com o bairradino Athaíde Semedo a enologia da empresa. Juntamente com Luís Lourenço, o proprietário da Quinta dos Roques, Álvaro de Castro está para o Dão como Luís Pato está para a Bairrada, por exemplo. P.G.