E arrancaram-nas?
Sim, arrancámos e renovámos. A Noval tinha entre 60 a 70 hectares e hoje em dia tem 145.
Como é que organiza os lotes para cada um dos vinhos. Tirando a vinha de pé-franco que faz o Noval Nacional em anos especiais, as uvas das outras parcelas já têm um destino determinado antes da vindima? Ou varia de ano para ano?
Varia de vindima para vindima. A coisa mais importante que eu faço nas vindimas hoje em dia é decidir que vinhas vão fazer os vinhos. Dito isto, há sempre uma vinha ou outra que produz, a gente sabe, “aquele” vinho. Caso do Vale do Seixo. O Vale do Seixo produz sempre Vintage e a prioridade do Noval é o Vintage. Eu não estou a dizer que se fizer um vinho com as uvas do vale do Seixo que não vai ser um bom vinho de mesa. Claro que vai ser muito bom. Mas aqui a prioridade é Vintage.
O melhor é sempre o que vai para Vintage.
Sim, mas não é só o que é o melhor. Pode haver alguns anos em que outra parcela dê vinho assim tão bom, embora diferente. O Douro está cheio de diferentes exposições, de altitudes. No Noval isso acontece muito e os anos não são todos iguais. O Vale do Seixo por acaso é uma parcela que vai toda para Vintage, mas temos outras parcelas, como as Canadas, onde temos quatro hectares de Touriga Nacional, que muitas vezes metade vai para Vintage e metade e para vinho de mesa. E há outras parcelas em que decidimos ano a ano. Como? Para lá das análises de maturação, eu provo as uvas. Ando todos os dias antes da vindima a provar para decidir quando começamos e por onde começamos. Todos os dias ando na vinha. Vou muito menos à adega do que ia no princípio. Vinificar já está mais ou menos mecanizado.
O senhor prova uma uva e diz: este cacho vai para Porto ou para o topo do DOC Douro. É assim?
Sim, mas o cacho pode ser bom para os dois. Mas há partes em que provamos a uva e ela sabe mais a vinho do Porto do que a vinho de mesa.
Como é que sabe mais a vinho do Porto?
Nas vinhas mais maduras o sabor da fruta é diferente. O nosso problema no Douro não é o aquecimento global médio: é haver uma semana ou alguns dias em que o sol atinge temperaturas doidas. Se o sol estivera a bater directamente na uva, coze-a. E uma uva cozida não faz um bom vinho, sobretudo um DOC Douro. Mas é mais o estilo do vinho do Porto e por alguma razão o Douro faz vinho do Porto. Por vezes as uvas sofrem calores terríveis. Não digo que é só no Douro que isso acontece. Uma das coisas muito importantes para que as uvas estejam frescas é a viticultura, o tratamento que se faz à vinha para que ela chegue com uma folhagem óptima, capaz de proteger as uvas. Durante a revolução de há 30 ou 40 anos, com os PDRITM [um projecto financiado pelo Banco Mundial que levou à reestruturação de 2500 hectares de vinhas do Douro], foram buscar tudo a França. Eles tinham um sistema de poda e de embardamento que não era de todo o do Douro, nem existia no Douro…
Era feito para outro clima?
Era feito para a França. E trouxeram de lá tudo e esqueceram o que os nossos antepassados sabiam sobre o assunto. Foi um erro.