Fugas - Vinhos

  • Nelson Garrido
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António Agrellos: a nova geração vai posicionar o Douro ainda mais acima

Também no DOC Douro?

Sim, em todos os DOC Douro que eu faço está lá a Touriga Francesa. A Roriz pode dar vinhos bons, mas na Noval não dá aquele vinho…

Se tivessem que iniciar o processo de 1993 fariam a mesma aposta? Ou com a experiência teriam feito outras apostas?

Não. Faríamos a mesma coisa. Nós pusemos Sousão, por exemplo. É uma casta óptima, cheia de acidez e que no envelhecimento dos tawnies sobressai no aroma e na beleza do blend O João Nicolau de Almeida não a estudou - ele estudou a Tinta Barroca e nós acabámos com a Barroca porque é uma casta que nunca nos disse nada. Pusemos Tinto Cão, embora pouco. E temos Donzelinho tinto, e plantamos as castas “exóticas”.

Por que razão foram por aí, plantando castas internacionais?

Havia tanta coisa a fazer e o stress era tanto… Estudar castas demora tempo, é preciso plantar, esperar, é um percurso longo. Fomos buscar castas que são reconhecidas em todo o mundo como boas. E dentro das características dessas castas nós decidimos experimentar. Houve algumas que pusemos logo de lado…

… Caso da Cabernet Sauvignon…

Sim, aquilo foi logo tudo reenxertado. Mas há outras que nós perguntamos: por que não hão-de ser do Douro [as regras da denominação de origem impõem restrições ao uso de castas internacionais]? Neste momento temos a Petit Verdot, a Syrah, achamos que são castas óptimas para o Douro. Dentro das castas autorizadas, e nem sei se nas recomendadas para DOC Douro, há oito castas francesas. Há oito! Uma delas é o Pinot. Mas estas não podem entrar nos vinhos do Douro. São terríveis [ironiza]. Se puser Petit Verdot, não tem direito a usar a denominação de origem Douro. Nós temos um ou dois por cento dessas castas na nossa vinha: é isso que vai desnaturar o Noval? Por que é que eu não posso escrever a palavra Douro no rótulo ou no contra-rótulo? Chegou a cúmulo de escrevermos ‘a quinta do Noval, situada no vale do Douro’, e de esse contra-rótulo ser chumbado porque não podia dizer Douro: tinha dizer ‘no vale das Terras durienses’… É absolutamente ridículo.

Mas a identidade de uma região não é feita também pelas suas castas? A partir do momento que se autoriza a plantação de variedades estranhas não se corre o risco de pôr em causa essa identidade?

Não acho. Quantas castas há no Douro? Umas 45 só em tintas. Que identidade é que tem o Douro? Se o João Nicolau de Almeida definiu cinco castas e se toda a gente – bom, nem toda a gente, porque a Touriga Nacional produz menos – começou a plantá-las, isso quer dizer que ele é que é o “identificador”? E se ele tivesse estudado outras castas? Se autorizam vinho com as outras castas todas é porque não há identidade nenhuma. Se há oito francesas, por que não há-de haver mais uma ou duas? Eu tenho a certeza que já houve Syrah no Douro.

Nos DOC Douro sente que ainda está num processo de evolução ou chegou a um estado de qualidade que já o satisfaz?

Nenhum enólogo está satisfeito com o que faz. Que houve uma grande evolução, houve; que há uma nata em cima que está num patamar muito melhor que antigamente, sim, embora haja muita coisa em baixo que ainda não. Na região já há grandes vinhos. Antigamente havia o Barca Velha e não havia praticamente mais nada e hoje o Barca Velha está camuflado pelos outros, não sobressai com sobressaia. Houve uma subida enorme da qualidade graças às castas, à enologia à técnica de pessoas formadas e das adegas estarem preparadas, que foi o que aconteceu no Noval.    

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