Fugas - Vinhos

  • Nelson Garrido
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António Agrellos: a nova geração vai posicionar o Douro ainda mais acima

Mas no caso dos Noval tem-se notado que os teores de álcool dos DOC Douro baixaram de cerca de 14.5% para uns 13.5% de grau. Isso resulta de mudanças na vinha?

É tudo junto. Estamos a tentar a poda de vara e de talão, que era a poda do Douro e que foi abandonada para o cordão porque é muito mais fácil. Mas o cordão não protege tanto as uvas. Nós estamos a levar a poda outra vez para a vara e talhão, como era antigamente. É uma poda mais trabalhosa, mas cobre melhor as uvas. Outra mudança: eu aprendi em Bordéus que o Merlot e o Cabernet se fazem em separado, não há misturas. Mas no Douro não fazemos isso. Eu não faço isso. Nós temos uma Touriga Franca madura num sítio e uma Touriga Nacional madura no outro, prontas a serem vindimadas. Então juntamo-las no lagar. A Touriga Nacional deve estar a 14.5% de volume de álcool e a Touriga Franca deve estar a 12%. Isto é óptimo para fazer o blend na cuba.  

Como se situa na discussão sobre a selecção de um pequeno lote de castas em detrimento da enorme variedade que caracteriza as vinhas tradicionais do Douro? A região deve apostar os trunfos todos em três ou quatro castas?

Há coisa de meses fui a Foz Côa, passei no sítio onde esse património está guardado e aquilo metia pena. Estava quase tudo abandonado. Nós [o Estado] temos uma quinta de Santa Bárbara para fazer experiências com as castas e está tudo mal tratado. O nosso património não serve para nada. Está esquecido. Se não tivesse sido o João Nicolau de Almeida a fazer qualquer coisa [João Nicolau de Almeida e José António Rosas fizeram trabalhos pioneiros nos anos de 1980 que levaram à identificação e cinco castas com especiais aptidões para o Douro], eu não sei como estraríamos hoje em dia. Ele fez alguma coisa, mas ainda há muito a fazer. Eu sou velho, mas as gerações novas deviam pegar nisso.

O Jorge Moreira está a fazer experiências com castas diferentes na Real Companhia Velha…

Mas são experiências particulares. O Estado é que tinha de fazer alguma coisa.  

Nas replantações que fizeram no Noval depois de 1993 que castas privilegiaram?

Foi a Touriga Nacional e Touriga Francesa. Roriz já lá havia numa boa vinha, infelizmente enxertada num bacelo que produz muito - a Roriz nunca entrou num Vintage desde que eu estou no Noval. Produz vinhos engraçados, mas não têm a profundidade da Touriga Francesa nem da Touriga Nacional nem, às vezes, da Tinto Cão. O Tinto Cão dá um vinho aromático e elegante. É uma casta que na parte agrícola aguenta tudo, está sempre bem. Metida numa certa proporção acho que abre o aroma, fica muito bem num blend, tanto no vinho do Porto como no vinho de mesa. Mas, essencialmente é Touriga Nacional e Touriga Francesa, Touriga Franca como se chama agora – eu não sei por que é que mudaram o nome. Franca? Francamente não sei por que se chama Franca… A Francesa é para mim a casta excelente do Douro. Para já, porque tem bastante corpo, peso, pode ser muito aromática, com aroma tipo terra, que dá sempre muita coisa ao vinho e casa bem com as outras…

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