Fugas - Vinhos

  • Nelson Garrido
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António Agrellos: a nova geração vai posicionar o Douro ainda mais acima

Não é isso. Com as leis do terço do benefício e não sei quê eles morrem à fome.

O sistema está montado para os que cá estão.

Está. Os patos bravos não entram cá e isso é uma coisa boa – aquela ideia de vir aqui fazer uns negócios e ir embora. Não, aqui é preciso dedicação. Mas a gente nova não tem hipótese.

Segue o trabalho dessa nova geração?

Tenho um sobrinho, os filhos dos meus amigos que está a lutar. Sei o que eles dizem e eles gostariam de fazer vinho do Porto, mas não lhes compensa. Ter um stock de dois terços parado e só podem vender um terço. Mesmo sendo produtor engarrafador, tem de ter uma vinha, ser produtor, só podem fazer se tiverem benefício e depois só podem vender um terço. Isso não compensa. Até porque para que o “Vintage José Manuel” possa aparecer ao lado de um Taylor’s tem de ser uma coisa fabulosa. É muito mais difícil vender vinho do Porto do que vinho de mesa. Ainda bem que houve a revolução dos DOC Douro… Foi a possibilidade dos jovens e dos proprietários durienses poderem viver. Não é viver bem, que este é um negócio difícil. Não estamos no champanhe, onde uma família com um hectare vive.  

Há alguma diferença na maneira de ver o vinho e o Douro entre a sua geração e a nova geração?

Há uma grande mudança nos vinhos de mesa. A minha geração já foi aprender a Bordéus. Eu tive os melhores professores do mundo, como Émile Peynaud, com quem aprendi; a geração do meu pai e dos meus tios aprendeu em casa. A nova geração formou-se em Vila Real. A maior parte tem um curso universitário, uma aprendizagem muito melhor. Eles vão ter de fazer melhor que nós, é assim que as coisas progridem. Eu acho que a nova geração vai posicionar o Douro ainda mais acima. O Douro é uma das melhores regiões do mundo, em todos os sentidos.

Mas por vezes faz falta gente que venha de fora para mostrar caminhos novos. Como foi o caso de Christian Seely. Partilha com ele o rumo do Noval há 23 anos. O que é que ele trouxe de novo.

Ele é uma excelente pessoa, que faz muito bem o que faz. É um óptimo manager e a minha ligação com ele foi muito feliz. Eu disse-lhe, ‘eu faço os vinhos e tu vende-los, que eu não sei vender’. Ele olhou para mim e disse: ‘se conseguir beber os vinhos que fazes, eu vendo-os’. Foi assim. Atá agora tem corrido tudo bem. A Noval caiu em boas mãos, de pessoas que queriam produzir qualidade e não apenas chegar ao fim do ano e perguntar pelos lucros.

Na Romaneira também está a correr bem. O problema com o accionista principal [o banqueiro brasileiro André Esteves está envolvido no processo Lava Jacto] não trouxe problemas?

Não. Eu não sei bem do problema nem quero saber. A Romaneira funciona na mesma, tem um bom accionista, é uma pessoa que quer qualidade. É como no Noval. Os vinhos têm um carácter completamente diferente dos da Noval, mas a Romaneira é um terroir de excepção, é uma jóia que está ali.

Qual foi o vinho que fez que mais gostou?

É difícil de dizer. Nós lembramo-nos sempre mais do último. Teria sido o Nacional de 2011. Nesse ano o Nacional correu muito bem. É um vinho que tem muita estrutura mas ao mesmo tempo não é muito agressivo.

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