Fugas - Vinhos

  • Nelson Garrido
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António Agrellos: a nova geração vai posicionar o Douro ainda mais acima

Quando representa o DOC Douro nos negócios da Noval?

Eu não quero dizer asneira, mas será mais ou menos 20%. Mas está com tendência para crescer.

A produção tem aumentado todos os anos?

Temos de o fazer. Não podemos fazer mais vinho do Porto por causa dessa história do benefício [autorização de produção de vinho do Porto, fixada em função da qualidade das vinhas ordenadas da letra A a F]. Eu sou contra o benefício, por um lado. Números redondos só podemos vinificar metade da produção em vinho do Porto, pela lei. Porque é que as quintas no coração do Douro não podem fazer o vinho do Porto que quiserem? Na região só devia haver as letras A, B, ou C; as outras não deviam existir nem existiam antigamente, menos nos anos em que as vinhas das letras A, B, e C não conseguiam produzir todo o vinho que era necessário.

Mas há nessa distribuição a outras letras, que beneficiam os pequenos produtores, uma preocupação de natureza social que é importante?

São interesses de natureza social e políticos: ter votos, para Casa do Douro, etc. É uma distribuição de riqueza, tudo bem, mas é uma carraça em cima dos que podiam ser melhores e que leva tudo para o fundo. A região do vinho do Porto devia ser reduzida, e as letras E e F que produzem bom vinho deviam fazer parte das terras durienses ou lá o que lhe queiram chamar. Os exportadores têm de lhes comprar o cartão de benefício para terem capacidade de exportação e vão ter de ficar com uvas que se calhar não queriam comprar. Na Noval acontece isso, embora nós só compremos ali um bocadinho à volta. Alguns nem sequer têm vinho suficiente para o cartão. Ou seja, esta é uma lei que provoca uma data de ilegalidades.

Dentro do vinho do Porto, a mola principal da Noval continua a ser o Vintage?

Não só o Vintage. Todas as categorias são importantes para a Noval: Colheitas, onde temos tido bons resultados, vinhos com indicação de idade, LBV. Só no Ruby e no Tawny é que a Noval não pode competir. Eles produzem milhões de garrafas e uma margem pequenina é suficiente, mas para nós essa margem não dá. Temos de ter Ruby e Tawny porque temos de ter uma gama para os distribuidores, mas não é aí que a Noval ganha dinheiro. É nas categorias especiais, onde tem de estar sempre entre os melhores. Se não estiver entre os melhores, perde e pode ser absorvida pelas maiores empresas, que foi o que aconteceu a muitos. Quem é que resta? A Niepoort, a Ramos-Pinto, a Noval e poucos mais. Eu não digo que muitas dessas empresas que foram vendidas não estejam em boas mãos, mas é uma tristeza que seja assim.

O sector fica mais pobre?

Sim, empobrece e não aparece gente nova. Toda a gente nova que está no Douro a fazer vinhos faz vinhos DOC, vinhos de mesa, não faz vinhos do Porto. Que uma Quinta do Crasto ou do Vale Meão comece agora a pôr um bocadinho de vinho do Porto cá fora está bem – o Crasto tem mais hectares que a Quinta do Noval. Mas os jovens não têm a mínima hipótese, a não ser que sejam muito ricos.

Mas os jovens não querem fazer vinho do Porto, não os seduz?

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