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Eleven - O melhor de Lisboa

Por David Lopes Ramos ,

O lisboeta Eleven é um dos raros restaurantes portugueses com assinatura, a do categorizado chefe de cozinha alemão Joachim Koerper, há muitos anos rendido aos encantos da dieta mediterrânica. Fruto da vontade de 11 amigos, entre eles o chefe Koerper, o Eleven tem uma localização privilegiada ao cimo do Parque Eduardo VII.

As suas grandes janelas de vidro estão viradas para o Tejo e, em dias claros, além do jardim e de trechos da cidade, avista-se o perfil da Serra da Arrábida. O ambiente é cosmopolita e cheio de luz, a decoração de muito bom gosto, as mesas são amplas e a boa distância umas das outras, os panejamentos dos melhores e os talheres, copos, decantadores e demais alfaias dos mais adequados à função.

Apesar de, ao fim de um ano após a abertura, em 2005, o Eleven ter sido distinguido com uma estrela Michelin, o primeiro ano e meio da casa não foi fácil. A cozinha levou algum tempo a ganhar ritmo e o serviço de sala, com destaque para os vinhos, demorou a acertar o passo com as ambições do Eleven, que nunca escondeu querer dotar Lisboa de um restaurante merecedor da atenção e das distinções dos inspectores do Guia Vermelho Michelin.

Como fui fazendo refeições no Eleven durante os seus três anos de vida, posso concluir que, encarado em todas as suas facetas, o restaurante é, actualmente, o melhor de Lisboa. O chefe Joachim Koerper pratica uma cozinha de mercado e de estação, não se emociona com as descobertas culinárias fantasiosas, preferindo canalizar as suas energias, emoções e inteligência na transformação de produtos da mais alta qualidade e frescura.A cozinha de Koerper é criativa, bem apresentada, dando de comer aos olhos e ao facto, antes de satisfazer as papilas. Embora elaborada, não é uma cozinha barroca. Koerper sabe que mais de três/quatro ingredientes em cada criação culinária podem distrair o paladar do principal, que é a harmonia do cozinhado.

Resumo as impressões de três refeições feitas no Eleven, almoços e jantares, de 18/10/06, de 27/1/07 e de 23/3/07, este último para testar a nova carta da Primavera. Da primeira refeição, ficou-me na memória a delicadeza da salada de vieiras (29 euros) e a originalidade do gaspacho quente (29 euros); da segunda, a excelência da sinfonia de ostras (crua, panada e escondida numa batatinha "ratte", 24,50 euros) e do ravioli de lavagante (29 euros), a suculência do tornedó de novilho (33 euros) e a correcção do ponto de cozedura do pregado em crosta (66 euros, duas pessoas), embora não tenha ficado convencido da origem marítima do peixe. A cozinha é também a arte do disfarce.

A refeição mais recente permitiu testar sobretudo o sector dos peixes da ementa primaveril. Das entradas, provaram-se as "nozes de vieiras e polvo à lagareiro em espetada de rosmaninho, coração de alface e vinagreta de iogurte" (26 euros), começo pouco auspicioso, dado o excesso de frigorífico das vieiras e a pouca qualidade do polvo, sensaborão e aborrachado; excelentes, porém, caramelizados por fora, rosados e untuosos no interior, os "escalopes de foie gras quente com ravioli de pêra, sucos com mel de especiarias e balsâmico" (29 euros); muito bem na sua simplicidade, talvez inspirado no alentejano coelho à São Cristóvão, o "coelho confitado com pequena salada, gastrique de laranja e óleo de noz" (22 euros).

Os peixes provados, e aprovados, foram: o "bacalhau confitado com limão, mariscos à ''la nage'' e batata esmagada com azeitonas" (28 euros), o peixe, em meia cura, de posta alta, alva, as lascas a abrir como folhas de um livro, ponto de cozedura impecável, acompanhamento a condizer, bela criação.

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