É o momento das despedidas junto à porta do La Mamounia, o mítico hotel de Marraquexe e, confessamos a Denys Courtier, ficámos fascinados com a diversidade dos uniformes dos funcionários do hotel. O director-executivo sorri e permite-se fazer-nos uma ligeira correcção. "Nós chamamos-lhes vêtements d' images. Achamos uniformes muito vulgar." E, de facto, no La Mamounia nada é vulgar.
A forma como os 170 funcionários do hotel estão vestidos ultrapassa em muito a roupa, tinha-nos explicado Lamia El Ghorfi, responsável pela comunicação. "Não há sinalética no hotel. O pessoal é ele mesmo a sinalética." Cada traje é pensado em função do lugar dentro do La Mamounia, cada serviço ou departamento tem um e cada funcionário tem um vêtement d' image diferente para o dia, para a noite, para o Verão, para o Inverno, num total de perto de 800 roupagens.
Tentamos seguir a lógica e orientarmo-nos no hotel a partir dos trajes com que nos cruzamos. Na Galeria Majorelle funciona o bar italiano. "É o coração do hotel e o único dos quatro bares que está aberto das 11h à 1h." Nas recentes obras de remodelação do designer Jacques Garcia - o La Mamounia esteve fechado três anos, renascendo em 2009 - o tecto pintado por Jacques Majorelle, o artista plástico francês que no início do século XX se instalou em Marraquexe, foi "redescoberto".
"Sabia-se que este tecto pintado existia, mas estava escondido atrás de outro", conta Lamia. Agora, no eixo entre a entrada e os jardins, o tecto de Majorelle é novamente o centro. E aqui as empregadas de mesa trajam de amarelo-torrado porque essa é também a cor dominante da pintura de Majorelle. E, reparamos agora, é a cor dominante no chão, onde começa um longo tapete que nos há-de acompanhar por grande parte do hotel - são "28 mil m2 de tapete, feito exclusivamente para aqui".
A experiência com os vêtements d' images começa logo quando se entra no La Mamounia. Como tudo no hotel, esse momento foi pensado para ser uma experiência. Filme de Hollywood? Conto das Mil e Uma Noites? Numa coreografia que se repete mil vezes ao longo do dia, dois porteiros de esvoaçantes capas brancas e luvas abrem o primeiro conjunto de portas. Logo de seguida, novo conjunto de portas e mais outros dois porteiros, integralmente de branco, a abri-las do interior do hotel.
No átrio, ainda estamos a tentar perceber o espaço e já nos oferecem a bebida tradicional de boas-vindas em Marrocos: leite de amêndoas fresco, com um pouco de açúcar e água de rosas. E também uma tâmara, como se fôssemos viajantes que atravessaram o deserto e encontram finalmente um oásis que os acolhe.
O La Mamounia quer ser o nosso oásis, quer que nos percamos dentro dele e que esqueçamos que existe uma porta de saída. Há, aliás, 2264 portas - alguma vez encontraremos a da saída?
Podemos viver aqui para sempre, guiando-nos pelos vêtements d' image para saber se é dia ou noite, Verão ou Inverno. Viver esquecidos do mundo como no filme italiano O Jardim dos Finzi-Contini, em que uma família de judeus da alta sociedade vive no seu jardim, jogando ténis e recebendo os amigos, enquanto o mundo lá fora mergulha na II Guerra Mundial.