Fugas - prazeresdeverao

  • Jorge Simão
  • Jorge Simão
  • Jorge Simão
  • Jorge Simão
  • Jorge Simão
  • Jorge Simão
  • Jorge Simão
  • Jorge Simão
  • Jorge Simão
  • Jorge Simão
  • Jorge Simão
  • Jorge Simão
  • Jorge Simão
  • Jorge Simão

Continuação: página 2 de 3

Apanhar uvas, pisá-las e descobrir vinhos na Quinta do Ventozelo

Dos seis que aqui existem apenas dois estão cheios. Um está a receber uvas neste momento, através de uma mangueira que vem do exterior, enquanto no outro as uvas estão já desde quinta-feira a fermentar, deixando que a polpa se mantenha em contacto com a película e o futuro vinho ganhe cor e corpo. Para que esse processo aconteça é preciso fazer mergulhar a manta, ou seja, essa camada de películas e grainhas que vem ao de cima no tanque. É essa a nossa função: levantar a perna e obrigar a manta a mergulhar.

Somos vários e desorganizados, por isso, em vez de obedecer ao ritmo da pisa tradicional, disparamos cada um para um lado, divertidos com a sensação de mergulhar as pernas até acima do joelho no líquido, que tem uma temperatura agradável provocada pelo processo de fermentação.

Há algumas tentativas de formarmos uma linha de cada lado para avançarmos à ordem de comando de um líder — neste caso é Jorge Dias que assume a função, lançando um “esquerda, direita, um, dois, esquerda, direita”. Melhor ou pior, e entre risos, obedecemos, mas, tal como aconteceu nas vinhas, em nada nos assemelhamos a quem realmente sabe fazer pisa a pé — um processo que tem que ter, pelo menos no início, um ritmo lento e compassado e que se prolonga por quatro horas seguidas.

Mas, já se sabe, para os turistas das vindimas — que é o que somos por um dia — a vida é sempre facilitada, por isso em breve passamos para o outro lagar, que está a receber as uvas acabadas de chegar e onde a temperatura é mais baixa. Aí a sensação é diferente: o chão é mais escorregadio e os nossos pés esmagam realmente os bagos de uva. Mas a experiência é agradável e ficaríamos ali de bom grado mais algum tempo, não fosse alguém anunciar que do forno de lenha da casa dos caseiros está a sair um cabrito.

O anúncio é feito por um entusiasmado Miguel Castro e Silva. O chef — que tem o restaurante deCastro Gaia no Espaço Porto Cruz, onde iremos jantar mais tarde — passou os últimos dois dias na quinta para preparar um vinho que fará, com a marca Ventozelo. Este ano já fez dois, que acabam de ser lançados, um branco, o Ventozelo Viosinho Douro 2014, e um tinto, o Ventozelo Syrah Regional Duriense 2014.

Mas para 2016 o desafio é maior. Desta vez será um vinho de lote e Miguel Castro e Silva escolheu as castas Tinta Amarela, Tinta Roriz e Alicante Bouschet, para fazer uma brincadeira, uma espécie de versão do Douro de um vinho que faz com o enólogo Rui Reguinga no Alentejo e que leva castas semelhantes, embora com nomes diferentes (a Tinta Amarela é a Trincadeira e a Roriz é o Aragonez). “Desta vez não me limitei a escolher um lote, fui mais além e tornei-me um pouco enólogo”, diz, satisfeito com a experiência.

Marca construída lá fora
O desenvolvimento e exportação dos vinhos do Douro, e em particular os da Quinta do Ventozelo, é uma das grandes prioridades do grupo Gran Cruz para o próximo ano, explica Jorge Dias. Embora se trate ainda de um nicho. “Faremos 200 mil garrafas de vinho do Douro contra 25 milhões de vinho do Porto”, sublinha.

--%>