Fugas - restaurantes e bares

Miguel Madeira

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Um T13 para a cultura

Nabais tem um acordo de comodato com a Obriverca: não paga renda, mas tem de zelar pela manutenção do edifício. É bom enquanto durar. A má notícia é que é pouco provável que dure para sempre. É mais ou menos como viver com um gigante adormecido debaixo dos pés: mais tarde ou mais cedo, ele acorda. "Este terreno está num lugar nevrálgico da cidade", diz Nuno Nabais. Braço apontado para a esquerda: "Está ali a Expo..." Braço apontado para a direita: "Está ali Santa Apolónia..." Para aqui confluem vários projectos urbanísticos - o terminal TGV, nova ponte sobre o Tejo - que, mesmo não passando de meras hipóteses, dão conta do potencial deste pedaço de cidade. "A Obriverca está com isto embargado há anos, perdem dinheiro todos os dias. Mal seja desembargado..."


Espaço para utopias

É melhor sair, para voltar a entrar (e esboçar um breve roteiro). Bar do lado direito - sala ampla, pé direito alto e luzes baixas, livros pechincha nas estantes, piano vertical de madeira entre as duas janelas que dão para o jardim: vê-se que alguém idealizou uma sala de estar, mais do que um bar; sala de concerto do lado esquerdo, com um pequeno palco e piano (e livros à volta), uma porta que dá para outra sala (mais livros), que dá para outra sala... A Fábrica de Braço de Prata é um espaço matrioska. Doze salas no total, e isto é o que está à vista, por enquanto (na cave, há outros inquilinos a instalarem-se: a artista plástica Joana Villaverde montou aqui um atelier, a banda pop Moi Non Plus alugou outra assoalhada). Quatro salas para exposições, uma para projecção de filmes (Nuno Nabais chama-lhe "cine-teatro") e para o que mais vier, porque uma sala nunca é para uma coisa só. Breve relação dos acontecimentos testemunhados nas últimas semanas no dito "cine-teatro": exposição-concurso de fotografias lomográficas, bar aberto, um jantar, festa com DJ.

E o fim do mundo ali tão perto. O francês Michel não andava propriamente à procura de um espaço, mas havia quatro salas vazias e Nuno Nabais e José Pinho perguntaram-lhe se não gostaria de ficar com uma. "O José Pinho pensava que era para dar aulas de sapateado", ri-se. Isso é o que toda a gente espera dele - "A minha imagem está muito associada ao sapateado. Mas eu tenho outros meios de expressão." E tem outros planos: jam sessions com músicos do conservatório, projecção de filmes, exposições, novo circo (Michel também é programador da sua sala e pretende apresentar outros criadores). Ele define-o como "espaço de criação artística". "Convido performers e artistas a tentar manter uma certa espontaneidade. A ideia é trabalhar o mais possível a improvisação."

É a sala com a personalidade mais forte. Luzinhas de Natal a pender do alto, cromolitografias compradas na Feira da Ladra (gravuras do século XIX em formato de bilhete postal) suspensas de parede a parede - foi uma maneira de baixar o tecto ou de vencer o pé-direito alto - cadeiras de madeira coloridas, uma câmara de vídeo a filmar em directo e em permanência. É aqui o fim do mundo. Não tentem dizer isto em casa, mas Michel baptizou a sua sala de Pétaouchnöck. "É uma expressão francesa antiga", explica, uma espécie de fim do mundo imaginário. "E agora existe", diz, sorrindo.

Nome
Fábrica do Braço de Prata
Local
Lisboa, Marvila, Rua da Fábrica de Material de Guerra, 1
Telefone
925864579
Horarios
Quarta-feira e Quinta-feira das 18:00 às 02:00
Sexta e Sábado das 18:00 às 04:00
Domingo das 15:00 às 00:00
Website
http://www.bracodeprata.com
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