Fugas - restaurantes e bares

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Ferrugem

Por José Augusto Moreira ,

As regiões de tradições profundas e costumes ancestrais são normalmente terreno árido para experiências de ruptura. É também por isso, que o Ferrugem, a meio caminho entre Famalicão e Braga, merece nota positiva. Mas de assinalar é mesmo a qualidade da confecção e o cuidado na escolha dos produtos
Terra de tradições profundas e ancestrais costumes, o Minho valoriza como nenhuma outra região aquilo que de mais autêntico e genuíno tem para oferecer. Da mesa à adega, dos rituais de convívio ao modo de falar. Os minhotos são como são e dificilmente admitirão alguma vez que possa haver produtos melhores do que os seus, gente tão prazenteira e convivial quanto eles o são. Para o bem e para o mal. São mesmo assim e dificilmente mudam mesmo, que deslocados por entre terras ou costumes de absoluto contraste. Atestam-no os múltiplos restaurantes ou casas de comida com vinho verde e papas de sarrabulho que as comunidades emigrantes espalharam por esse mundo fora, do Brasil à Ásia, da França e Alemanha aos Estados Unidos e Canadá.

Assim é também com a rica gastronomia da região, desde sempre avessa à adopção de novidades, à introdução de produtos ou técnicas vindas do exterior. Uma das mais marcantes características da cozinha minhota é mesmo a quase exclusiva utilização dos produtos locais, dos legumes do quintal que todos cultivam à criação do porco, cujo desmanche proporciona uma miríade de inigualáveis iguarias, como as papas ou o arroz de sarrabulho, os rojões ou a suprema delicadeza que constituiu o célebre pudim Abade de Priscos, que só é possível graças à utilização do toucinho do reco. "O Minho, com raras excepções, sempre comeu o que produziu. Como produtos de importação importantes na sua dieta apenas se podem assinalar o arroz e o bacalhau. Trata-se de uma cozinha de forte identidade", resume Alfredo Saramago no livro "Cozinha do Minho".

É, por tudo isto, território árido para aquilo que se possa considerar como cozinha criativa ou de autor, o que valoriza ainda mais experiências de ruptura como são os casos de Amaya Guterrez e a sua requintada Quinta do Prazo, em Valença, ou o já famoso São Gião, de Pedro Nunes, em Moreira de Cónegos. Também no Baixo Minho e não muito longe deste último, numa estrada interior entre Vila Nova de Famalicão e Braga, está o Ferrugem, uma experiência igualmente ousada e inovadora que se propõe desbravar caminho a partir dos produtos e da tradição locais.

Assim é também o espaço. Um antigo estábulo, do início do século XVII, foi exemplarmente recuperado para dar lugar a uma sala, ampla, agradável e com um enorme pé direito, capaz de acolher cerca de quatro dezenas de comensais. O cuidado trabalho de arquitectura manteve toda a traça granítica original, agora enquadrada por um surpreendente pórtico de entrada em chapa de ferro nua, que lhe confere o efeito de ferrugem que dá o nome ao restaurante.

O serviço é cuidado e esmerado, a casar com o ambiente de confortável elegância, e as propostas evidenciam a preocupação de recolher o melhor da tradição, mesclando-o com as modernas técnicas e tendências da cozinha actual. A visita do PÚBLICO coincidiu com a apresentação da ementa de Verão - que já na próxima semana dará lugar à de Outono -, da qual constavam um prelúdio (2 euros) composto por pão de água (nas versões de azeitona com tomilho-limão, maçã com canela e pasta de azeite com bálsamo de alho e estaladiços de lombo de porco); sorvete de caipirinha (1,70 euros); e creme de legumes (2,50 euros).

Nome
Ferrugem
Local
Vila Nova de Famalicão, Vila Nova de Famalicão, Rua das Pedrinhas, 32
Telefone
252911700
Horarios
Terça a Domingo das 12:00 às 14:30 e das 20:00 às 22:30
Website
http://www.ferrugem.pt
Preço
35€
Cozinha
Portuguesa
Espaço para fumadores
Não
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