Fugas - restaurantes e bares

Jorge Silva

A Casa Matos, de Salreu, merece um desvio

Por David Lopes Ramos ,

Afastada das vias principais, A Casa Matos, em Salreu, merece que se abandone a A1 ou a A25 e se tome a EN 109, até estacionarmos no seu parque privativo. Depois é fazer o que fez o nosso crítico: entrar, sentar-se à mesa e regalar-se com a oferta variada e de qualidade de petiscos e pratos da cozinha popular portuguesa.
Entramos na Casa Matos e ficamos logo cientes, pela bateria de tachos de barro vermelho alinhados no balcão, que é grande a oferta de petiscos quentes. Pedimos a ementa e vemos que são 27, embora nem todos estejam disponíveis. No dia em que lá almocei, havia 12 à disposição. Mais seis entradas, duas sopas (da pedra e de peixe), quatro saladas (polvo em molho verde, orelha de porco grelhada com azeite, alho e coentros, salada de bacalhau com azeite, cebola, vinagre e pimenta e salada de feijão frade com molho verde), três petiscos frios (carapaus em molho de escabeche, rojões das tripas ou redanho, iscas de fígado com cebolada), oito acompanhamentos (quatro arrozes, dois de grelos, uma salada mista e um de feijão verde), um prato principal de bacalhau, de nove possíveis, um cabrito no forno de uma oferta de 17 "pratos principais de carne", além das sobremesas: quatro queijos, cinco doces, cinco frutas e seis gelados. Nos vinhos a copo da semana, três brancos, um rosé e dois tintos.

Este restaurante de Salreu tinha-me sido recomendado por amigos, que me chamaram a atenção para os seguintes aspectos: a amplidão e qualidade da oferta de petiscos e pratos principais, com sublinhado para o sabor apurado dos cozinhados; a exemplaridade da carta e serviço de vinhos, merecendo menção o facto de todos eles ostentarem a data de colheita, mas também, e isto é raríssimo, informação sobre as castas que constituem o lote, indicação do nome do enólogo responsável, bem como da nota que João Paulo Martins lhes atribuiu no seu guia "Vinhos de Portugal". Ponto igualmente relevante: os preços são sensatos e há muitos vinhos que custam menos de 10 euros e alguns menos de cinco a garrafa. Verifiquei que tudo isto é verdade, o que me encheu de satisfação, tanto mais que escasseiam nas terras do litoral aveirense casas de comida que justifiquem um desvio. A Casa Matos justifica-o em toda a linha.

À entrada, como já informei, há um balcão de bom tamanho onde se pode petiscar, a que se seguem três salinhas asseadas, muito bem-postas, com mesas atoalhadas de branco e frigoríficos de vinhos. Na mesa, havia bom pão (broa de milho, broa frita e pão de mistura de trigo e centeio), azeitonas temperadas com azeite e orégãos (1,50 euros), um estimável queijinho de Nisa (4 euros), um pratinho de excelentes rojões das tripas (0,85 euros), uns bem temperados jaquinzinhos de escabeche (4,50 euros).

Da ementa, ainda para a função petisqueira, pediram-se uma patanisca de bacalhau (3,50 euros), daquelas fininhas e rústicas, feitas com farinha triga, água, um nico de bacalhau, cebola e salsa, comida de pobre bem apaladada, e uma patanisca de polvo (4 euros), também recomendável. Seguiram-se duas tigelas de bem apuradas feijoadas de molho grosso e especioso: uma de feijão-frade com samos (partes carnosas e gelatinosas pegadas às espinhas do bacalhau) e buchos de bacalhau e outra de grão com enchidos (4 euros cada), com os embutidos (chouriças de sangue e de carne) a revelarem-se de grande categoria; e ainda uma especialidade que só encontro nas terras do litoral aveirense: tripas e bucho de porco marinadas numa vinha d''alhos de vinho tinto e depois guisadas (3 euros, 150 gramas), que são um petisco contundente, desaconselhado a apetites de passarinho. Finalmente, os pratos do dia: bacalhau à beirão (10 euros, meia dose, 9 euros, mini dose), passado por polme, frito e terminado no forno com pimento vermelho, cebola e cenoura, acompanhado por batata cozida e salada mista, que não brilhou porque o bacalhau era um pouco seco; também houve quem o achasse demolhado em excesso, mas outros consideraram-no bem neste particular. Já o cabrito no forno (mesmo preço do bacalhau), servido com batata assada, arroz branco e grelos, esteve glorioso, embora pudesse ser mais pequenino: muito bem temperado e assado, mostrou porque é por muitos considerada a melhor carne que se pode comer. Um reparo para o arroz branco. Não é companhia que se dê a um cabrito no forno. O arroz de miúdos, sim. Ainda mais uma observação: deixem de servir os legumes, sejam crus, sejam cozinhados, na mesma travessa dos assados. Há sempre alguma água que escorre e os molhos saem prejudicados.

Nome
Restaurante Casa Matos
Local
Estarreja, Salreu, Rua Padre António Almeida, 3A
Telefone
234841319
Horarios
Segunda a Sábado das 12:00 às 15:00 e das 19:00 às 23:30
Preço
25€
Cozinha
Trad. Portuguesa
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