Fugas - restaurantes e bares

Nélson Garrido

A caminho dos 30, o Pipa Velha respira saúde

Por Pedro Rios ,

Fundado em 1981, já não está sozinho no roteiro nocturno da Baixa do Porto. A concorrência não alterou a identidade do "Pipa", um sítio para "ouvir música, conversar e comer qualquer coisa".
Assistiu praticamente sozinho à transformação da Baixa numa constelação de cafés, bares e outros espaços de diversão nocturna. Em 1981, poucos sonhariam que isso pudesse vir a acontecer, mas foi nesse remoto ano que abriu o Pipa Velha. "É o bar mais antigo do Porto", um ex-líbris da vida nocturna da cidade, orgulha-se Eurico Cardoso Rocha, que gere o espaço da Rua das Oliveiras desde 1995.

Tinha dez anos quando o "Pipa", como lhe chama com carinho, foi inaugurado pela mão do pai. Hoje tem 39 e diz: "Sempre foi isto". "Isto" é um "sítio onde se pode ouvir música, conversar e comer qualquer coisa."

Recuemos mentalmente até à Baixa do Porto de 1981. "Havia pubs, discotecas e casas de alterne", descreve Eurico Rocha. Mas não havia um bar. Por isso, diz, "o Pipa Velha foi o primeiro bar" do centro do Porto. Abriu como "petisqueira para gente fina". A palavra "bar" foi retirada, durante algum tempo, da placa identificativa do espaço porque dava má reputação à casa. Hoje, o lado de petisqueira mantém-se (e é um dos atractivos do Pipa Velha), mas convive com as características de um bar.

O Pipa Velha abriu portas antes de a Ribeira ser o centro da animação tardia da cidade. Funcionou até como uma espécie de escola informal de como gerir um negócio desta área, já que "os donos dos antigos bares da Ribeira eram todos clientes [do Pipa Velha]". Hoje sente-se como pioneiro da movida que tomou conta da Baixa à noite.

A história do espaço cruza-se com a da cidade. O Fantasporto, quando ainda acontecia no vizinho Teatro Carlos Alberto (TeCA), "fazia ali os seus beberetes", exemplifica. "Quem cresceu no Porto dos anos 80 e 90 passou por aqui", garante. Nas paredes há cartazes de diversas companhias de teatro do Porto, noites de poesia e outros eventos culturais. Alguns têm mais de 15 anos, diz Eurico Rocha, preocupado com o seu estado de conservação. O "design" e o tom amarelecido denunciam os anos passados desde que os artistas ofereceram os cartazes ao "Pipa".

"Foi sempre uma casa a que muita gente ligada ao teatro vinha - e ainda vem. E jornalistas", prossegue Eurico Rocha. Vinham (e vêm) à procura de um local com decoração simples e rústica, que convida à conversa numa das várias mesas nas duas salas e esplanada. A esplanada no fundo do bar é uma das atracções: é um sítio ideal para noites mais quentes na companhia de amigos, enquanto se degusta chouriço assado e outras iguarias.

Nos últimos anos, na Rua das Oliveiras e noutras artérias vizinhas, abriram outros bares. O movimento "espontâneo" era, de certa forma, expectável, já que "a Baixa perdeu muitos habitantes", tornando menos complicada a questão do ruído. "Em 1981 havia muitos habitantes" no centro da cidade, recorda. "No início não achei piada nenhuma", reconhece. "Depois fiquei expectante. Agora já não estou preocupado. Ganhei públicos novos. Mexeu com a zona", diz. Conclusão: "Não ganhei muito, nem perdi."

É esta constância que interessa ao Pipa Velha. "O meu maior medo é perder a identidade", confessa. "Já cá vêm os filhos e dizem que os pais já vinham cá. E também os netos."

Nome
Pipa Velha
Local
Porto, Porto, Rua das Oliveiras, 75
Telefone
222082025
Horarios
Todos os dias das 20:00 às 03:00
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