Fugas - restaurantes e bares

Paulo Pimenta

A essência do vinho

Por Andreia Marques Pereira ,

Foi carpintaria e agora é bar que homenageia o eléctrico turístico do Porto. Entre o passado e o futuro do centro da cidade está o Baixa 22, onde a sangria assume lugar de honra e retém um aroma incontornável de madeira. Para os dias frios que ainda hão-de voltar e para os dias quentes que hão-de vir, tudo com muita soul à mistura.
A essência do vinho

Tem poucos meses de existência - mesmo assim, mais do que pensámos - mas já tem "apelido": 22. É o "22", não o Baixa 22, o nome oficial, que anda de boca em boca. É o "22" como o eléctrico que ainda há pouco vimos passar, castanho e bege, turista empoleirado à frente, máquina de filmar numa mão (a outra a agarrar-se firmemente a um poste) a seguir um grupo de estudantes - caloiros, supõe-se - a cumprir mais uma etapa do calvário da praxe. É o eléctrico turístico do Porto, com passagem pela Praça Filipa de Lencastre. E paragem - era nessa paragem que os proprietários do Baixa 22 se reuniam. "''Onde estás?'' ''Estou no 22''" eram trocas de palavras recorrentes. Eram e são, mas agora o "22" tem tecto e paredes. É um bar, sim (e é escritório e armazém, pois os proprietários dividem-se ainda pelo vizinho Praça - e a Casa do Livro, também nas redondezas), e é uma homenagem declarada ao eléctrico.

Na parede lá está, uma imensa tela com o eléctrico 22, o "original" (que é verde, amarelo e branco e "agora está no Museu do Carro Eléctrico", sublinha Pedro Trindade, um dos sócios), a espreitar num canto. Mas a primeira homenagem, talvez involuntária, não é ao eléctrico nem é primordialmente visual. É olfactiva e homenageia o antes. O antes de o "22" ocupar os números 203/206 da praça: o antes era uma carpintaria e é o cheiro da madeira que nos envolve quando passamos a soleira da porta. Depois, somos envolvidos visualmente pela madeira. Está por todo o lado e o resultado é rústico-urbano, quase como uma tasca sofisticada, atrevemo-nos a sugerir a Pedro Trindade. Sem objecções.

Não é só o cenário. Há ainda o leit motiv do "22". O vinho, ou melhor, a sangria. O Praça é o bar dos cocktails, porque não um bar de sangrias?, pensaram. Não é à toa a referência ao Praça: é duas portas à frente e, constatou-se, perdia-se lá muito tempo a preparar sangrias. "O Mário [outro sócio] é conhecido entre os amigos por preparar a melhor das sangrias", conta Pedro Trindade. Por isso, entre o colorido tropical das bebidas exóticas, o vermelho e o branco tingidos de frutas eram muito requisitados. Para grandes males, grandes remédios, está visto. Um bar temático, que faz da sangria uma arte (além do prazer) - e uma arte ao alcance de todos os potenciais artistas. É o que Pedro Trindade chama "sangria à medida": partindo de quatro bases escolhe-se o vinho (ou espumantes e champanhe) para completar e aí tudo depende do que se quer (ou não) gastar.

E, claro, há a sangria "da casa", branca, rosé ou tinta. E, claro, com tanta sangria in your face é a sangria que mais se vende - "pelo menos até aparecer o próximo bar a vender sangria". E, como antes da sangria há o vinho, as opções são variadas e com espaço para algum "exotismo", o vinho quente. É bebida de Inverno, de invernos rigorosos ("Um copo daquilo aquece brutalmente. Aquece de mais para o nosso clima"), por isso o vinho aquecido com canela e fruta está prestes a despedir-se - até ao próximo Outono. O que não se despede é a sangria repousada, que aliás virá em força nos próximos tempos - "as mulheres preferem-na assim, aliás", nota Pedro Trindade, "o álcool evapora-se mais e fica mais doce". A manter também é a soul, a música negra dos Estados Unidos, com variações pelo r''n''b e pelo hip hop, que foi a banda sonora escolhida para acompanhar a celebração do vinho. Sem DJ, mas com o cuidado de evitar o lado mais comercial da música, explica Pedro.

Nome
Baixa 22
Local
Porto, Porto, Prç. Filipa Lencastre, 203/206
Telefone
926810921
Horarios
Quinta a Sábado das 22:00 às 03:00
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