Fugas - restaurantes e bares

Paulo Pimenta

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A essência do vinho

Não temos um copo de sangria à frente, enquanto nos sentamos numa das duas únicas mesas do Baixa 22, quadradas, sólidas, tampos de chapa zincada ("como as antigas mercearias"), rodeadas de cadeiras resistentes, antigas, populares, pintadas de casca de ovo. Estão logo à entrada do espaço comprido e esguio (a largura é dada logo na fachada: duas portas-janelas estreitas), pé direito altíssimo rematado por vigas de madeira - parecem antigas, mas as aparências enganam. Se é verdade que as madeiras foram herança do negócio anterior - a carpintaria que esteve 80 anos na mesma família - também é verdade que há excepções. As mais notórias são as traves e o balcão, comprido e sólido, ripas de madeiras pintadas dessa cor casca de ovo que lembra (todas?) as mercearias de outros tempos. O bar desenvolve-se em tons ocres e declinações (tirando uma parede negra, nas traseiras, revestida de um material que pretende imitar pele) e a madeira é quase sempre pintada para dar o toque antigo. A luz é amarela e escassa, saída de dois focos discretos na entrada e depois dos candeeiros do balcão ou daqueles, de cores e formas dissonantes, que se penduram sobre a banca nas traseiras, rodeada de bancos altos. Por detrás do balcão, quadros de ardósia alinham-se na parede com as sugestões da casa desenhadas a giz, e num armário um aquário enche-se de gelo a rodear os jarros de sangria, iluminados por uma luz que vem de baixo para ensaiar um caleidoscópio colorido (e controlado).

O Baixa 22 é sóbrio, algo austero e despojado. Para não escapar ao espírito do lugar. É certo que do outro lado da praça se ergue o Hotel Infante de Sagres, um dos mais luxuosos do Porto, mas deste lado, no correr de edifício baixos e despretensiosos, o movimento sempre foi popular. Ainda não há muitos anos, mesmo ali ao lado, saíam as camionetas para o Minho e se agora há bares e restaurantes neste correr ligeiramente elevado sobre a praça, a verdade é que Pedro Trindade e os sócios não quiseram perder o contacto com o que foi. Já não é, definitivamente, o Porto de antigamente, mas é o Porto de antigamente que indica o caminho: o Baixa 22 quer ser a imagem de uma cidade que está em mutação, mas não esquece as raízes. "As pessoas passam por aqui e dizem ''Está quase igual''", conta Pedro, arquitecto, "e eu gosto de ouvir isso". "Quero sempre tentar que as pessoas percebam as épocas e as casas que o Porto teve e manter essa imagem."

O edifício do Baixa 22 será dos anos 20, 30 do século XX, foi carpintaria e agora é bar onde o vinho tem aroma incontornável de madeira e a música de eleição é a soul. Porque a alma da cidade tem de mudar para se manter igual.

 

Há quatro bases para cada um desenhar a sua sangria - que, no final, encherá um jarro de dois litros. A lower sugar (sobieski, safari, royalty red, frutos do bosque, lima canela e ginger ale) e a peachy (sagatiba, amarguinha, triple-sec, peach monin, laranja, pêssego, lima, guaraná e hortelã) ficam por €6; a fruity (apricot brandy, marie brizard, bombay, laranja, limão, pêssego, morangos e snappy) custa €9 e a Premium (chancella, grand-marnier, marie brizard, gengibre, limão, maçã, vimeiro sparkling) €12. Mas a base é isso mesmo, o começo. Depois, há quase duas dezenas de opções para "fazer" a sangria - ou seja, a lista de vinhos. Há tintos, brancos e rosés e espumantes e champanhes. Entre os €9 do Mateus Rosé e os €70 do champanhe Tattinger, encontramos, por exemplo, o Terra Franca, branco e tinto, a €10, ou o Vinha Grande (branco) a €32 e o Callabriga a €42. Tudo depende da bolsa de cada um.

Nome
Baixa 22
Local
Porto, Porto, Prç. Filipa Lencastre, 203/206
Telefone
926810921
Horarios
Quinta a Sábado das 22:00 às 03:00
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