Fugas - restaurantes e bares

  • João Cordeiro
  • João Cordeiro

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Português híbrido, de preço pouco suave

A excelência da açorda

Para início veio um cesto de “pão” (2,40 euros) de mistura, de qualidade banal, “azeitonas” (1 euro) carnudas, temperadas com azeite e orégãos, embora numa das vezes estivessem uma pilha de sal, e ainda “manteiga” (0,95 euros) de ervas de qualidade média.

A primeira entrada foram “cascas de batata fritas com molho picante” (3,50 euros), umas lascas grossinhas daquelas que um aprendiz tira à batata nos primeiros dias em que as descasa, mas que lá traziam um pouco de pele agarrada. Tinham boa qualidade e fritura, com o molho ligeiramente picante a servir para espevitar mais a gula.

A “salada de polvo da rocha” (7,75 euros) inicialmente não deslumbrou por ser servida muito gelada, mas o facto é que trazia uns pedacinhos tenros e saborosos de bom polvo, que até conseguiu sobressair na mistura com uma cebola agressiva que ia deitando a perder o acerto do tempero e a qualidade da matéria-prima.

Os “mexilhões com pimentos vidrados” (7,25 euros), versão meia concha (congelados) de calibre médio curto, mas de miolo gordinho, felizmente foram cozinhados à parte para assim conseguirem deixar passar o seu sabor, após serem envolvidos nos pimentos. Estes eram de boa qualidade e foram “domesticados” para não agredirem os bivalves ao serem cortados em tiras finas carnudas e ao receberem um tempero adocicado. Apresentada em quatro rodelas vistosas, a “morcela de arroz com grelos” (6,50 euros) era muito boa, com um subtil gosto picante e muito bem acompanhada por grelos migados com um suave golpe de vinagre, a avivar mais o contraste com o enchido.

No peixe, a escolha foi de época no “sável com açorda de ovas” (17 euros), com as habituais postas cortadas fininhas, agradáveis, fritas e enxutas, mas que ficaram quase em segundo plano perante a excelente açorda — o sabor intenso a peixe do caldo e das ovas e a consistência gulosa e possante dada por miolo de broa de milho. Com este nível, sozinha, valia um prato. A “raia alhada à algarvia” (10,80 euros) estava mais parecida com um “cação de coentrada” à alentejana que outra coisa. A erva aromática dominou tudo e todos. Os alhos passaram a actores secundários, as batatinhas novas perdidas no meio do caldo, e o peixe na sua composição esponjosa a cozinhar de mais e a deixar-se embriagar no tempero, ficando sem brilho. 

No “carré de borrego com puré de batata-doce” (16,70 euros) era notória a qualidade da carne, com a meia dúzia de costeletinhas a virem em ponto rosado e sumarento a ornamentarem um belíssimo puré de batata-doce, denso e viciante com textura de seda. Uma redundância foi a vinda de chips de batata-doce, mas pior é ser omissa na carta a inclusão de um despropositado doce de frutos vermelhos que ia muito além daqueles arabescos decorativos sem sentido que por vezes se vêem. O acessório indesejável não só contaminava a carne e o puré com o sabor “compotado” dos frutos vermelhos, como somava mais açúcar a um prato que já o tinha quanto bastasse.

Para um restaurante que assume ser amigo do vinho, a carta é bem mais curta do que se podia imaginar. Cada proposta da lista traz o nome das castas e do produtor, o que é uma informação útil, embora esteja algo confusa ao apresentar vinhos que não existem, mas vendo-se nos expositores que há muito mais referências que as listadas. A variedade é portanto escassa, com preços dentro da especulação habitual, à excepção da região Tejo, onde o proprietário está omnipresente na oferta com o seu catálogo e a preços de combate (claro!) para que o “bom entendedor” tenha a escolha “facilitada”. Serviço simpático e esclarecido por parte do gerente, com o registo da restante equipa de sala a situar-se entre o muito afável por parte de uma jovem portuguesa e um estilo mais compenetrado e rígido vindo de uma jovem brasileira. O assunto começa a ser recorrente, mas é de evitar “oferecer” água do cano filtrada (2,5 euros/litro) para a cobrarem a preços de água mineral engarrafada! 

Nome
Areeiro 3
Local
Lisboa, Sé, Praça Francisco Sá Carneiro, 3A/B
Telefone
218002381
Horarios
Segunda a Sábado das 12:00 às 15:30 e das 19:00 às 23:00
e Segunda-feira das 19:00 às 23:00
Website
http://www.valedacapucha.com/
Preço
30€
Cozinha
Mediterrânica
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