Fugas - restaurantes e bares

  • Daniel Rocha
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Este Joaquim tem dom para ser um dos bons

Chegou então uma caçarola de barro com uma avantajada sopa de bacalhau com espinafres e ovo escalfado (12,50 euros), delicada no tempero, sem alho a mais e com a água de escaldar o bacalhau a reforçar o sabor, bem guarnecida com posta alta e bons espinafres "azedinhos", a equilibrarem com o ovo escalfado de gema cremosa. As típicas migas de espargos com carne de porco do alguidar (12 euros) teriam ficado a ganhar se os espargos não estivessem tão picados e misturados com nicos de chouriço, o que lhes retirou sabor, mas os vistosos pedaços de carne, que foram temperados com massa de pimentão e fritos em banha, estavam saborosos e suculentos.

Outro momento a sublinhar foi o da chegada do arroz de lebre malandrinho (12,80 euros), confeccionado com arroz agulha, de sabor apurado e carne de qualidade campestre, com o golpe certeiro de vinagre a dar-lhe a acidez certa. Com a generosidade das doses o espaço para guloseimas ficou drasticamente reduzido, mas era difícil ignorar o portentoso fidalgo (4,20 euros), com a combinação entre trouxas e doce de ovos a surgir sem reparos daquilo que se espera de um devaneio conventual desta natureza. O pudim de água de prata (3,90 euros), que foi buscar o nome ao aqueduto secular que abastecia a cidade, era uma vigorosa receita de pudim de ovos, de textura enqueijada e gulosa. Há mais sugestões conventuais de relevo mas para degustar com parcimónia.

Na sala denota-se que a jovem equipa tem formação adequada, mantém-se atenta e afável durante o serviço, e com disponibilidade para esclarecer. As temperaturas de serviço dos vinhos a serem cumpridas de forma correcta, mas sem grande informação extra a acrescentar, o que é pena quando a carta é extensa, como é o caso. O proprietário distribui simpatia e recolhe opiniões ao circular pela sala em conversa ligeira com os clientes. O toque de chef menos empertigado que o habitual descai-lhe sobre a cabeça, assemelhando-se a uma boina de pintor do século XVII. Talvez seja uma metáfora do que pretende este Dom Joaquim: ser um espaço artesanal nas técnicas e na autenticidade dos sabores, mas apresentando a cozinha regional como uma arte popular.

Este formato de restaurante bebe um pouco da inspiração que o histórico Fialho vem mantendo desde há décadas e que alguns "filhos" gerou à frente de outros restaurantes da cidade e arredores. A novidade aqui é ter orgulho na cozinha típica, praticá-la num espaço moderno, confortável e a preços sensatos, algo que vai escasseando noutros espaços vizinhos, onde o pudor em tabelar menus de forma desproporcionada já se perdeu há algum tempo. Merece, portanto, reparo positivo este caminho que o Dom Joaquim tem trilhado com qualidade e sabedoria, e que o coloca entre as melhores opções da "Mui Nobre e Sempre Leal Cidade de Évora", que não descura o seu valioso património gastronómico regional.

Nome
Dom Joaquim
Local
Évora, Évora (Sé e São Pedro), Rua dos Penedos, 6
Telefone
266731105
Horarios
Terça a Domingo das 12:00 às 15:00 e das 19:00 às 22:45
Preço
20€
Cozinha
Alentejana
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