Fugas - restaurantes e bares

  • Pedro Maia
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Entrar no meio do nada... e gostar

“Diz-que-andam-enrolados” (5 euros) era um conjunto apaladado, formado por uma tira de presunto e outra de beringela, a enrolarem uma porção de queijo fresco, com o sabor do legume a entrar em ocaso, “entalado” entre o bom tempero do recheio e a presença do sal da carne, acentuada após os rolinhos terem sido salteados. Os “Cala Mários” (5,50 euros) também a mim me deixaram mudo, com os anunciados anéis de lulas fritos “de comer e chorar por mais” a serem dos congelados! Opção incoerente e despropositada para as expectativas. À mesa chegou também uma dose generosa de “Kátia Vanessa” (6 euros), combinação entre linguiça e um misto de cogumelos (portobello, pleurotos, e “de Paris”), que, correndo o risco de os fungos serem permeáveis ao sabor do enchido, resultou muito bem na preservação das texturas e dos aromas de cada componente.

Nos pratos principais, pescou-se um delicioso “Cururuca-que-corou” (13,50 euros), que era um arroz malandrinho feito com caldo de peixe e que servia de base a uma garbosa posta de corvina, num ponto de cocção perfeito; húmida, fresca e com a pele crocante impecavelmente escamada. “Oh chefe!” (13,50 euros) é a interjeição que serve de palavra-passe para a gulosa açorda de gambas, preparada com um genuíno caldo de marisco e generosamente guarnecida com camarões salteados em vez de cozidos, ficando mais firmes e saborosos. Nas carnes, o “Consolo no cachaço” (12,80 euros) eram vistosos e tenros nacos de porco estufado, acompanhados de puré de batata e espargos, num conjunto reconfortante e apetecível.

Sem salamaleques
A carta de vinhos segue a mesma escassez de propostas que a de comidas, sendo apresentada numa garrafa, como se fosse um rótulo, mas que não foge às opções a copo nem aos preços igualmente comedidos. O serviço é eficaz e cumpre os requisitos básicos, mas oscila entre a simpatia descontraída da vertente feminina e por vezes um excesso de informalidade do lado masculino. Olhando para a decoração da sala, com paredes revestidas a mármore até meia altura e as mesas despojadas de grandes apetrechos, percebe-se que a ideia é ter um ambiente familiar e sem grandes salamaleques, mas convivial. Talvez com a mesma descontracção do passado, quando ali existia uma taberna. Atrevo-me a também recorrer a uma tirada irónica para lembrar que, no trato com os clientes, “à-vontade não é à-vontadinha”, um vocábulo de cariz militar que fica como sugestão de futuro para que não se confundam os papéis de cada parte.

Falando em papéis, mas de relevo, merecem destaque algumas das sete sobremesas (4 euros/cada), que são comuns aos dois serviços (almoços e jantares). Atendendo à generosidade das doses, é importante reservar lugar para “O padrinho”, um “quarteirão” de tiramisu de toque alcoólico anisado e confecção perfeita, pronto a “levantar o ânimo” (tira me sù). Igualmente recomendável é a trouxa de massa filo a embrulhar um puré de figos e passas, que trazia uma bola de gelado de caramelo, baptizado como “Chamava-lhe um figuinho”. Bom exemplo de apresentação moderna de uma sobremesa tradicional, sem mexer nos ingredientes, é a delicada mousse de requeijão com doce de abóbora caseiro. No momento de a pedir, apetece mesmo dizer convictamente: “Põe-te aqui à minha beira”.

Nome
Entra Restaurante
Local
Lisboa, Lisboa, Rua do Açucar, 80
Telefone
212417014
Horarios
Segunda das 12:00 às 15:00
Terça a Sexta das 12:00 às 15:00 e das 19:30 às 23:00
Sábado das 19:30 às 23:00
Website
http://www.entra.pt
Preço
23€
Cozinha
Trad. Portuguesa
Espaço para fumadores
Não
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