Fugas - restaurantes e bares

  • Nuno Ferreira Santos
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Em Alfama, a poesia ilumina a noite entre queijos e azeites

 A mulher é Ana Esteves, de 36 anos, que, apesar do seu desinteresse pelos livros, já assistiu a várias tertúlias. “Gosto muito do espaço. Sinto-me muito bem. É um espaço acolhedor e faz-me bem vir cá. Saio daqui com vontade de ler mais”.

Sem jeito, segura uma folha de papel e lê, algo apressadamente, “O Mar”, de Sophia de Mello Breyner Andresen. Depois de alguns aplausos afirma que não gosta muito de ler em voz alta e que não está habituada. “Se há pessoas que tenho que agradecer por voltar a ler é a ti e à Mónica”, diz apontando para Samuel que, sentado numa cadeira, a olha com um sorriso.

“As pessoas que não lêem poesia é mais fácil ouvirem e, depois de saírem daqui, lerem, porque saíram com o ouvido sensibilizado”, afirma Maria João Cantinho. “É sempre gratificante uma leitura de poemas, porque isso pode levar a que seja desenvolvido o hábito da leitura de poesia, que é um hábito que não existe.”

O desuso da poesia é, aliás, outro dos temas que acaba, mais tarde, por tomar conta da tertúlia. “O futuro da poesia pode estar na Internet”, ouve-se alguém dizer. Numa sala, onde já são poucos os que permanecem, este parece que o tema que os motiva a continuar a conversa. “Antigamente um autor, ou era editado, ou então não era lido”, relembra Maria João, para quem os novos meios de comunicação podem ser uma oportunidade para os poetas divulgarem o seu trabalho.

Quanto a este espaço de partilha e divulgação da poesia, o sentimento é comum. “Não há espaços assim. Só se lê poesia em apresentações de livros, em que o autor pega no livro para levar à sua compra e não para iniciar uma discussão”, afirma Sérgio que se mantém no mesmo lugar, atento ao que, por ali, se vai dizendo.

“Os encontros literários em Lisboa estão ainda muito ligados às livrarias. Havia falta de um espaço isento, onde as pessoas pudessem estar pura e simplesmente pelas palavras, sem terem que adquirir um livro”, afirma Samuel.

A noite já vai longa no Zazou. Passaram-se cerca de três horas desde o início da tertúlia e os rostos já aparentam cansaço. Samuel levanta-se, então, pela última vez e encerra a tertúlia com um poema de Florbela Espanca, “Escreve-me”. No fim, fica a promessa de voltar novamente com novos convidados e novos temas. As pessoas aplaudem levemente e dirigem-se para a saída, ficando por ali a conversar. “E foi mais uma tertúlia. Daqui a quinze dias há mais”, ouve-se dizer, num misto entre o sono e a satisfação.

Nome
Zazou - Bazar e Café
Local
Lisboa, Madalena, Calçada do Correio Velho, 7
Telefone
218884277
Horarios
Domingo, Terça-feira, Quarta-feira e Quinta-feira das 12:00 às 22:00
Sexta-feira e Sábado das 12:00
Website
http://www.facebook.com/zazoubazarecafe
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