Fugas - restaurantes e bares

  • Nuno Ferreira Santos
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Em Alfama, a poesia ilumina a noite entre queijos e azeites

Como esta, em que, depois de alguns poemas lidos por Samuel, chega a vez de a autora convidada ser chamada a ler alguma da sua obra. De óculos pretos de massa e cabelos curtos, Maria João Cantinho levanta-se e começa por apresentar-se. De seguida olha para Samuel e pergunta-lhe se deve, então, ler um dos seus textos. Depois de alguns segundos de espera, segura num dos livros e lê “A Dança Primordial”. Entretanto, começam a chegar às mesas alguns copos de vinho e pequenas tábuas de queijos e presunto, prontamente saboreadas pelos convivas enquanto escutam atentamente as palavras ditas.

“A poesia é uma actividade para ser lida. E só faz sentido quando vemos o olhar de quem nos ouve, a reacção que desperta. Quando as sessões são muito formais perde-se um pouco esse impacto. E a sessão de poesia mais intimista, que é o caso, é muito mais gratificante. O ambiente é muito acolhedor. E tem uma coisa boa, que normalmente não existe noutros cafés, é que não é nada ruidoso”, afirma Maria João Cantinho.

De facto, neste pequeno café em Alfama, o silêncio impera para deixar que as palavras de uma só pessoa, o leitor, encham o espaço. Entre as leituras, apenas o refrigerar de uma arca frigorífica se faz ouvir. Nesta noite, estão cerca de 20 pessoas a prestar atenção à poesia. Para Sérgio Batista, um dos clientes, é uma escolha que não significa um esforço, mas sim uma vontade: “Eu não deixo de ir a concertos”, diz, “mas isto não custa nada. Sempre que saio daqui, vou para casa mais rico”.

No entanto, a leitura não é a única actividade desta noite. A discussão em torno dos temas que vão rodeando os poemas é comum, ou não se tratasse esta de uma tertúlia. Desta vez, a controvérsia inicia-se quando Samuel lê um dos textos que publicou no seu blogue, “Poema-imagem”. Depois de lido o texto, a discussão está lançada. O facto de alguns poemas serem despropositadamente acompanhados por imagens suscita as mais diversas opiniões entre os presentes.

A discussão continua durante largos minutos. O ambiente, até aí bastante calmo e silencioso, transforma-se. Praticamente todos dão a sua opinião, numa troca de palavras que parece não ter fim. Uns mais efusivos que outros, apresentam os seus argumentos, dando às pessoas um à-vontade que, até então, não tinha existido.

“O que impera nas tertúlias é realmente a partilha, e não tanto o interpretar. Não pretendo um espaço muito formal e académico em que tenhamos que interpretar à letra o que está a ser lido ou dito. O que interessa é que as pessoas venham cá, participem, opinem e partilhem aquilo que pensam, aquilo que sentem, face às palavras que são escutadas”, explica Samuel.

E foi o que aconteceu. Mas a conversa acabou por se esgotar, ouvindo-se apenas alguns sussurros dos que ainda pensavam e reflectiam sobre o assunto. Uma mulher sentada num sofá ao canto da sala levantou-se e dirigiu-se em direcção ao centro do espaço. “Faço parte daquelas pessoas que não lêem”, disse. “O meu passatempo é o zapping. Quando leio livros, dá-me uma dor de cabeça e só penso em dormir. Podia-se fazer uma tertúlia sobre isso”, brinca.

Nome
Zazou - Bazar e Café
Local
Lisboa, Madalena, Calçada do Correio Velho, 7
Telefone
218884277
Horarios
Domingo, Terça-feira, Quarta-feira e Quinta-feira das 12:00 às 22:00
Sexta-feira e Sábado das 12:00
Website
http://www.facebook.com/zazoubazarecafe
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