Com a noite já a cobrir a cidade, a luz alaranjada que surge pelos janelões bordeaux é como um porto de abrigo, exponenciada pelo amarelo forte do prédio, aqui, onde a rua das Oliveiras se divide e deixa de o ser, uma esquina cortada em minifachada bem à vista do Teatro Carlos Alberto. Entramos com Filhos da Madrugada no ar e umas poucas mesas ocupadas - às janelas, todas; da cozinha, para lá da cortina de fitas, saem ruídos - algo a grelhar? Júlio Moreira confirma, no intervalo da azáfama que é a concretização do seu sonho, que foi algo indefinido até encontrar este espaço. Aí foi paixão à primeira vista - e paixão trouxe paixão até chegarmos ao Aduela Taberna Bar, com vinho e petiscos (conservas incluídas) sobre a mesa.
Taberna aqui não é a parte de somenos. Pelo contrário. Quando Júlio Moreira andava na sua "vidinha", como conta (sete anos a trabalhar em restauração e, desde 2010, a cultivar kiwis), e se apaixonou pelo espaço, a ideia que lhe veio à cabeça foi precisamente: "Vou abrir uma taberna e vender vinho." O resultado é mais ecléctico, mas a atmosfera que se vive é de uma taberna, ainda que, sim, urbana e evidentemente contemporânea: é relaxada, despretensiosa e até divertida. Se não vejamos a decoração - é estranho começar pela zona dos lavabos, mas é aí que, entre capas de singles de vinil, espreitam, lado a lado, a Mona Lisa e o "Menino da Lágrima". É uma casa portuguesa com uma auto-ironia saudável mas uma devoção verdadeira ao mundo rural - é Júlio Moreira quem nos aponta as figuras, em papel, que representam a "essência da ruralidade".
As "figurinhas" foram feitas pelo irmão de Júlio Moreira e tudo o que vemos aqui tem a mão de família e amigos. Com excepção das partes estruturais, tudo o resto foi feito por eles: durante várias semanas, o trabalho foi intenso, até à abertura, a 21 de Dezembro, e foi numa das maratonas nocturnas que até surgiu um dos ícones da casa - o "finesse", que é um fino servido em flûte, conceito inventado por João Clemente, braço direito de Júlio aqui e "amigo da vida", ou seja, de infância (numa noite em que já havia barris de cerveja mas não os copos, recorreu-se ao que havia; gostaram e mantiveram). Paredes foram picadas para revelar o granito, outras foram pintadas, o mobiliário foi restaurado - mesas, cadeiras, bancos altos e o balcão (que foi a mesa de um juiz) foram trazidas de antiquários e lojas de velharias -, gravuras foram emolduradas e penduradas. O resultado é acolhedor, com a madeira escura dos móveis em contraste com o verde de uma parte da parede, o bordeaux de um sofá de canto (sobre banco de madeira), o colorido dos pequenos quadros que cobrem as paredes e as andorinhas que voam numa delas.
Há algo de pub mas aqui transfigura-se em cenário indelevelmente português e com um piscar de olho à tal ancestralidade rural. Essa de onde "vem o vinho, os enchidos e coisinhas da terra"; e onde o vinho se pode tomar em malga - na lousa está a sugestão: "malga de vinho verde". O vinho é omnipresente como se pode ver pelo nome: aduela é a tábua, encurvada, que compõe as pipas - tem também outros significados, mas Júlio reconhece que foi a associação ao vinho que fez dela o nome. O espaço no interior do balcão deveria ter sido forrado com elas; enquanto isso não acontece propõe-se uma volta a Portugal (abreviada, há que reconhecê-lo, mas que se estenderá a Espanha e Itália) em copos de vinho, com preços a variar de acordo com o vinho escolhido segundo uma matemática simples: uma garrafa enche cinco copos, logo é dividir o preço para chegar ao final. O vinho vem sempre acompanhado de azeitonas e pão, de Miranda do Douro ou Mirandela, sem custo extra, e declina-se em sangrias.
- Nome
- Aduela Taberna Bar
- Local
- Porto, Sé, Rua das Oliveiras, 36 (em frente ao Teatro Carlos Alberto)
- Telefone
- 937508035
- Horarios
- Segunda a Sexta das 12:30 às 02:00