A inspiração é o Peru, mas a Cevicheria, o novo projecto que Kiko Martins abriu no Príncipe Real, em Lisboa, depois do sucesso de O Talho, não é um restaurante peruano. Encontramos lá o pisco sour (bebida típica à base de aguardente peruana, sumo de lima, xarope de açúcar e clara de ovo, com um pingo de Amargo de Angostura), e o ceviche, sim, mas isso é apenas o princípio. Fiel à sua filosofia de viajante do mundo, o que Kiko faz é misturar produtos e sabores, que podem ser portugueses, asiáticos ou tropicais.
O espaço, para o qual se entra por uma belíssima porta com pássaros rasgados, é pequeno mas está bem aproveitado, com mesas e um balcão – no qual se pode ver os cozinheiros a finalizarem os pratos e, de vez em quando, trocar com eles alguns comentários sobre o que estamos a provar – e um enorme polvo pairando sobre as nossas cabeças. O esquema é o mesmo que em muitos outros locais: somos aconselhados a partilhar alguns pratos (geralmente são três para duas pessoas), o que torna sempre a conta mais cara do que tínhamos imaginado inicialmente (o preço médio andará nos 25/30 euros, o menu de degustação, de seis pratos, fica em 35).
Mas o facto é que aqui vale a pena provar várias coisas (o nosso conselho é ir sempre fazendo as contas, até porque o pisco sour tem uma conhecida tendência para nos atrapalhar o raciocínio matemático). Temos, para começar um prato a que Kiko chama “sopa”, mas que é uma primeira versão de ceviche, com mais líquido, e com tapioca e gambas do Algarve.
Seguimos depois para os ceviches, com opção entre um “puro”, ou seja, o tradicional, com peixe (aqui usa-se garoupa, corvina ou pampo) cozinhado em sumo de lima, com cebola roxa e malagueta, e puré de batata-doce; um de bacalhau, que é o mais português, até porque a lima é substituída por vinagre de alecrim, com puré de grão, azeitonas secas e um courato de porco crocante; o de salmão, mais tropical, com manga, laranja e uma tortilha de milho roxo; e o de atum, mais asiático, com puré de pera abacate, algas, rabanetes e uma folha de arroz com kimchi (a pasta fermentada tradicional da Coreia).
Tal como a partir da técnica do ceviche, Kiko brinca com os sabores, também o faz com a causa, outro prato típico peruano à base de batata, em puré, recheada geralmente com atum e ovo. Uma das causas da Cevicheria é também com bacalhau, outra usa gravlax de salmão (salmão curado em sal, açúcar e zimbro), pepino e nata ácida, e outra de lavagante com batata preta, que neste caso é batata normal com tinta de choco, e puré de abacate.
Para quem quiser optar por um prato quente, uma das propostas da Cevicheria são os “quinotos”, feitos como o risoto, mas com quinoa, o famoso grão andino. Kiko usa sempre a quinoa branca, e num dos casos junta-a com polvo, presunto e ervilha torta, enquanto noutro faz uma “quinoa do mar”, com algas, mexilhão, camarão, peixe branco e uma espuma de ostras e algas. Há também uma quinoa na secção das sobremesas, uma espécie de arroz doce com espuma de goiaba.
Para terminar, quem ainda tiver ficado com fome pode pedir uma mini-sanduíche de barriga de porco confitada que, explica Kiko, funciona como “o preguinho que comemos no final numa marisqueira”. Não é peruano, mas isso é o que menos importa.
- Nome
- A Cevicheria
- Local
- Lisboa, Mercês, Rua Dom Pedro V, 129
- Telefone
- 218038815
- Horarios
- Segunda a Sábado das 12:00 às 00:00
- Website
- https://www.facebook.com/pages/A-Cevicheria/753258061396580
- Preço
- 30€
- Cozinha
- Peruana