O velho moinho ainda lá está, colado à casa. E mesmo que a sua função actual nada tenha a ver com farinhas e pão é ainda fundamental para o restaurante, já que é nas águas enfurecidas que antes faziam mover a mó que batalham agora as lampreias que chegam depois à mesa em copiosas cabidelas e refogados.
Já as há por estes dias de início de Janeiro. Dizem que capturadas lá mais para cima, na zona do Lindoso, onde o caudal Lima corre em sobressalto, mas será prudente esperar pelo final do mês, quando entra em pleno a temporada do desafiante ciclóstomo que marca um dos ciclos mais apaixonados do nosso calendário gastronómico.
Mas nem só de lampreia se alimenta a fama deste Moinho, um restaurante com cozinha de raiz popular, que dá primazia aos produtos locais e à tradição culinária regional. E as instalações logo o denunciam. Casa típica minhota, em blocos de granito, com alpendre acoplado onde chama a atenção a rima de achas que serve para alimentar fogões e forno a lenha. Do outro lado, a ribeira de águas batidas, neste caso o rio Vade, já no seu troço final de confluência com o Lima, que se estende pelo choupal ali em frente.
Um cenário carregado de história e poesia, com a velha ponte medieval, o mercado pombalino e jardim dos poetas a enquadrarem o lugar que deu nome à cidade. Por ali se fazia o atravessamento do Lima na via romana que ligou Braga e Compostela e operava a barca onde depois passavam também para a outra margem os peregrinos medievais a caminho de Santiago. Por isso foi o local escolhido (início do século XV) para a construção da monumental travessia com dez arcos em granito e desde então designada por Ponte da Barca. Vale, pois, a pena conhecer o local e a sua história, o que sempre será bom pretexto para abrir o apetite ou ajudar à digestão.
No Moinho a sala é ampla e ocupa todo o piso térreo do edifício, podendo tornar-se ruidosa quando se sentam mais de sete ou oito dezenas de comensais, o que, pela aparência, não será assim tão raro. O ideal mesmo é conseguir uma das mesas que estão num varandim envidraçado literalmente colocado sobre as águas do Vade. Há mais recato, cenário natural com queda de água, e, com sorte, é até possível apreciar a destreza das lontras nas suas artes de pesca.
Aí nos sentámos em dia pacato. Mesas com toalhas e guardanapos de linho branco, baixela adequada, e um ambiente sóbrio e desafogado. Cestinho com pedaços de broa de milho e saborosos pães (bicas) de trigo e centeio ainda a denunciar aromas de forno a lenha. Bons auspícios!
A par do prato de salpicão (3€), provaram-se os salgadinhos regionais (4,80€) e uma tigela de papas de sarrabulho (3,50€). Paio do cachaço de porco e um salame de textura e sabor bem interessantes, quatro bolinhos de bacalhau de aprimorada confecção (bacalhau esfiado, cebola, salsa e batata) e outros tantos croquetes de vitela igualmente bem apetecíveis. Densas e consistentes as papas, como é tradição local, mas de textura macia e muito bem temperadas, com carnes bens esfiadas e contenção nos cominhos. Provou-se ainda o sável de escabeche (4€), prejudicado pela excessiva fritura do peixe, que não deixava absorver o cuidado molho com vinagre de tinto.
- Nome
- O Moinho
- Local
- Ponte da Barca, Ponte da Barca, Campo do Côrro, 1
- Telefone
- 0
- Horarios
- Domingo, Segunda-feira, Quarta-feira, Quinta-feira, Sexta-feira e Sábado
- Website
- www.restauranteomoinho.pt