Não é a caveira de Yorick nem o monólogo de Hamlet sobre a mortalidade, mas há uma cabeça no Teatro Nacional D. Maria II, em Lisboa. Também não é a de São João Baptista, mas vem servida num prato, embora não de prata. Quem trouxe esta nova cabeça para o teatro foi Leopoldo Garcia Calhau, o fundador do restaurante Sociedade, na Parede, agora convidado para explorar o Café Garrett, no D. Maria II.
Quando chegamos ao Café Garrett, Leopoldo está sentado ao fundo de uma longa mesa situada em frente ao balcão. O restaurante está organizado em L, ocupando dois espaços, um próximo da montra da fachada virada para a Estação do Rossio e outro mais interior, ao lado do átrio do teatro. Há ainda uma pequena esplanada, com planos para crescer. Damos estas explicações porque não é fácil perceber que existe um restaurante aqui e os lisboetas não estão (ainda) habituados à ideia de que é possível entrar no teatro apenas para comer – ou, claro, para jantar antes ou depois de um espectáculo.
Leopoldo trouxe para o Garrett muitos dos pratos que têm feito sucesso no Sociedade e introduziu um ou outro novos. Um deles é a tal cabeça de borrego, tradição alentejana, presente nomeadamente na aldeia de Vila Alva, terra do pai de Leopoldo.
“É um sabor alentejano puro e duro”, diz. “Já há algum tempo que queria fazer um prato com ela mas é difícil encontrar fornecedores para garantir que temos sempre as cabeças. Agora, finalmente, encontrei um, Na terra do meu pai fazem uma marinada, assam a cabeça e vai para a mesa assim, inteira.”
Mas não se preocupem os mais impressionáveis porque no mais importante teatro da cidade não vão ter que lidar com uma cabeça inteira na mesa. “Aqui desossamos a cabeça, fazemos um caldo com os ossos, com hortelã, e servimos o caldo acompanhado por uma tosta barrada com a marinada.”
Nem o Sociedade nem o Garrett são, por enquanto, assumidamente restaurantes alentejanos, mas Leopoldo, que foi durante muito tempo arquitecto mas decidiu trocar a arquitectura pela cozinha, está cada vez mais convencido de que esse será o caminho. “Temos o Alentejo muito presente, de várias formas. Mas não quero, para já, limitar a minha cozinha, obrigando-me a que todos os pratos sejam de inspiração alentejana.” Por isso, o Garrett é apresentado como “café/restaurante mediterrânico”.
Neste final de Verão, serve no Garrett – onde tem como chef de cozinha Rui Bastos – um prato no qual trabalha diferentes variedades de tomate que são acompanhadas por gelado de manjericão. “O meu bisavô costumava dizer que no tempo do tomate não havia comida que não prestasse e eu lembro-me de, quando era pequeno, comer tomate como se fosse fruta”, conta Leopoldo.
Outro ingrediente que está a gostar muito de explorar é as beldroegas. “Dá-me um gozo enorme ver os estrangeiros a comer beldroegas”. E aqui serve-as com queijo fresco e ovo. Faz também um gaspacho – “ainda na versão espanhola” – servido ao almoço com carapauzinhos, e explora os sabores do Algarve com um prato de atum, tomate e pimentos, inspirado pela estupeta.
- Nome
- Café Garrett
- Local
- Lisboa, Santa Justa, Praça D. João da Câmara (Teatro Nacional D. Maria II)
- Telefone
- 21933532
- Horarios
- Domingo, Terça-feira, Quarta-feira, Quinta-feira, Sexta-feira e Sábado das 12:00 às 00:00
- Preço
- 20€